Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões
O trabalho em reinvenção: narrativa de uma experiência em meio à pandemia 67 práticas, das rotinas, dos procedimentos que sustentam o trabalho, o saber-fazer, da GerAção. Então, o primeiro passo foi a inserção nesse circuito de aprendizado no qual as/os oficineiras/os são protagonistas. Fez-se evidente o quanto esse momento é importante na construção de uma relação horizontal, outro princípio da economia solidária e também da reforma psiquiátrica, tornando possível a ruptura concreta da relação tutelar própria da lógica manicomial, enriquecendo o conjunto de experiências profissionais, didáticas e terapêuticas que compõe as oficinas. Destemodo, se busca estabelecer uma conexão entre a produção desejante e a produção de vida material por meio do trabalho. Isto é, construir “territórios existenciais, ou de ‘mundos’ nos quais os usuários possam reconquistar ou conquistar seu cotidiano.” (RAUTER, 2000, p. 271). Articulando o trabalho com o prazer e com a criação artística, a GerAção expande, portanto, a própria concepção de vida. Algumas semanas depois, entretanto, a incerteza se impõe: a pandemia de Covid-19 deixa de ser algo distante e passa a fazer parte da nossa realidade. A cada dia surgiam novas informações, tanto da Organização Mundial de Saúde como da Secretaria de Saúde de Porto Alegre, sobre as orientações de conduta para os serviços. Naquela que seria a nossa última reunião de equipe (presencial), havíamos firmado o pé, estagiárias/os e residentas/es, de que seguiríamos trabalhando juntamente com a equipe técnica, por entender que esse seria o posicionamento adequado enquanto profissionais de saúde. No entanto, alguns dias depois, diversas universidades se pronunciaram, em consonância com órgãos de saúde, suspendendo atividades acadêmicas e estágios presenciais. Foi necessário suspender as oficinas de trabalho do modo que funcionavam antes, onde salas cheias e movimentadas caracterizavam o trabalho coletivo na prática. A equipe técnica se reveza para permanecer no serviço e os nossos encontros passam então a ocupar um outro espaço-tempo: o virtual. As atividades que se mantiveram, de início, foram as reuniões de equipe. No entanto, diante de um contexto de incertezas, medos e angústias, tornou-se necessário construir estratégias para acessar as pessoas que faziam parte desse cotidiano coletivo de trabalho e que, de repente, são convocadas a se haver com o isolamento social e a distância do outro como uma forma de cuidado. A partir do que se escutava nas ligações telefônicas, que tinham o
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