Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

66 Oficina GeraFotos estar junto, fazer junto, inventar junto. Esses modos de trabalho se constroem assim: entre trocas, entre saberes que se propulsionam em busca de um processo de formação que leva em conta as condições de exceção em que estamos vivendo. Este texto é uma conversa, um arquivo aberto, um convite à edição 2 , que se desdobra a partir de uma experiência de estágio em um dispositivo de geração de renda da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Porto Alegre (RS), a GerAção POA: oficina, saúde e trabalho. A RAPS surge em consonância com os princípios fundantes do SUS, assim como com os princípios da reforma psiquiátrica brasileira. Isto é, a atuação na construção de um novo lugar social para a loucura, tendo o foco na superação do modelo manicomial e nas garantias dos direitos à cidadania e à liberdade (AMARANTE e NUNES, 2018). Aliado a esses princípios, a GerAção POA propõe construir um território coletivo de inclusão, de trocas sociais e de afirmação de novas perspectivas no mundo do trabalho. Para isso, ampara-se na economia solidária e seus princípios genuinamente democráticos, no qual o bem-estar social está sempre salvaguardado por meio da gestão coletiva do trabalho e do respeito às liberdades individuais (ALMEIDA et al, 2017). Desse modo, o coletivo de oficineiras/os 3 que compõem a GerAção POA produz objetos comercializáveis, gera renda, mas, acima de tudo, defende o trabalho como operador de saúde, resistindo ao modelo dominante de trabalho precarizado e produtor de sofrimento. Essa experiência tem início em março, antes que o contexto pandêmico se estabelecesse. Foram duas semanas de vivências riquíssimas, nas quais as/os estagiárias/os e residentas/es ocuparam a posição de aprendizes, não apenas frente à equipe, mas principalmente na relação com as/os oficineiras/os. São elas as conhecedoras das 2 Referência ao modo de produção dessa escrita, que se deu por meio de um arquivo aberto e compartilhado, em que todos os autores podiam editar a qualquer momento o texto. As decisões sobre algumas questões foram discutidas em reuniões on-line, permanecendo sempre o caráter coletivo de composição. 3 Na GerAção POA, as pessoas que participam do coletivo de trabalho em oficinas, após a abertura de uma loja na Cinemateca Capitólio, passaram a se apresentar como oficineiras/os da GerAção POA. É comum as pessoas que frequentam os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) serem nomeadas como usuárias/ os, e essa forma era usada amplamente, até que, em um ambiente cultural e na condição de vendedores da loja, essa apresentação como usuários de um serviço de saúde mental caiu. No lugar dela, a ideia de oficineiros em um empreendimento de economia solidária ganhava força e sentido.

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