Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

Escuta de mulheres em situação de violência no contexto da pandemia por Covid-19: relato de experiência 45 mais tensionamentos dentro do ambiente doméstico, seja por uma convivência mais intensa ou por situações externas que possam ser um estressor. Nas escutas realizadas, o tensionamento dos relacionamentos foi percebido, assim como uma dificuldade de se afastar do agressor, por grande parte dividir a mesma casa e pelo afastamento social dificultar a mudança de moradia em um primeiro momento, o que pode levar algumas mulheres a deixarem a denúncia de lado por uma dificuldade de cortar relações com o agressor, como dispõe a Medida Protetiva. Considerações finais A partir da realização das escutas de mulheres em situação de violência, concluímos que este é um trabalho que precisa ser fortalecido e que, portanto, não se encerra aqui, tampouco com o final da pandemia da Covid-19. A violência doméstica é uma realidade presente e crescente no país, que demanda uma intervenção em rede, sendo necessário que prossigam as pesquisas e as divulgações acerca da temática e a constante busca por estratégias de enfrentamento, assim como possibilidades de intervenção e ampliação das redes de apoio para as mulheres em situação de violência. Conforme demonstrado, outras realidades se atravessam no contexto de violência doméstica, como vulnerabilidade social, dificuldade ao acesso à internet, dependência de álcool e outras drogas, assim como o envolvimento com o tráfico. Em muitos casos, o recurso do registro policial da ocorrência da violência ou o deferimento de Medida Protetiva não são suficientes para desempenhar a resolução do problema. Por isso, reforça-se a necessidade da interseção dos setores jurídico, saúde e assistência social para que seja possível contemplar uma demanda da ordem da violência doméstica e de gênero. Nesse sentido, também se faz necessário investir na divulgação do empoderamento feminino que, de acordo com Aguiar (2015) surge a partir da troca de experiências e que vai contra as imposições feitas pela sociedade patriarcal vigente, tratando-se de uma tomada de consciência sobre si mesma, “em um processo de afirmação, que emerge da interação com outras mulheres” (AGUIAR, 2015, p. 119). É através desse fortalecimento da autoestima e da rede de apoio que a mulher sente-se capaz de romper esse ciclo da violência, enfrentando

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