Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

44 Marcela Nunes Penna, Vanessa da Silva, Flávia Pereira Galisteo, Michele Scheffel Schneider e Melina Lima por um medo do próprio agressor prejudicar aqueles que estão nas margens da situação. Além disso, o município de São Leopoldo é permeado pelo envolvimento de facções, relacionadas com o tráfico de drogas, que são muito ativas principalmente nas áreas mais vulneráveis da cidade. Logo, pensa-se que a rede de apoio pode a se afastar em virtude do envolvimento com usuários de drogas e, consequentemente, facções e tráfico, que possui maior acesso a armas e dispositivos de violência, colocando não só a vítima de violência em risco, mas também toda a sua rede de apoio ao acolhê-la. Por outro lado, Gomes et al . (2015) referem- se a importância do apoio social como fortalecimento, que através dos vínculos sociais estabelecidos torna-se possível das mulheres se sentirem amparadas, favorecendo a recuperação de sua autoestima e o protagonismo individual dentro de sua história e sujeito de suas próprias narrativas. Ao realizar as escutas, também foi possível perceber certa ambivalência das mulheres ao relatarem sobre os motivos que as levaram a realizar as denúncias. Muitas relataram ter sofrido violências anteriormente, mas não terem denunciado ou pedido uma Medida Protetiva e acabam buscando tais alternativas somente quando a violência chega em um ponto extremo. Ainda, identificou- se, um elevado número de usuários de drogas entre os agressores das mulheres escutadas, as quais relataram angústias e medos relacionados ao cenário do tráfico. Também foi possível identificar muitos casos em que a denúncia é realizada quando o relacionamento chega ao fim e o agressor não consegue aceitar, fazendo ameaças de morte e utilizando frases no sentido de “se não for minha, não será de ninguém” ou “se não podemos compartilhar a vida, não viveremos ela”. O contexto de pandemia exigiu alguns cuidados ao acessar ambientes públicos e as orientações eram para manter ao máximo o isolamento social. Com isso, as pessoas procuravam evitar sair de suas casas, o que possivelmente dificultou o acesso às delegacias, (mesmo elas mantendo-se abertas durante a pandemia por se tratar de serviços essenciais) e outros serviços públicos e de apoio às mulheres em situação de violência. Apesar disso, percebeu-se o aumento das denúncias, conforme indica o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (2020). Ainda, é possível perceber o cenário de pandemia como uma dificuldade em lidar com os relacionamentos, gerando

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