Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões
Escuta de mulheres em situação de violência no contexto da pandemia por Covid-19: relato de experiência 43 está mantendo contato através das redes sociais. Em uma de suas obras, Bauman (2004) fala da constituição dos laços sociais, que antes eram em uma comunidade, como uma rede, em que as relações são conexões, muitas vezes mediadas pela internet, que podem facilmente ser feitas, desfeitas e refeitas. A partir dessa facilidade de criar vínculos, pensa-se o “amor líquido”, descrito por Bauman (2004) ao falar sobre a fragilidade, instabilidade e fluidez das relações, que podem remeter a maior insegurança e fragilidade dos laços sociais. Porém, a partir dessa movimentação rápida, percebe-se uma abertura para o ciúme e a necessidade de controlar o outro, para buscar ter entendimento e segurança sobre essa relação. De acordo com Freire et al. (2010), o ciúme pode ser acentuado pela possibilidade de investigação tecnológica, como um exemplo do “amor líquido” (BAUMAN, 2004), o que se torna angustiante e motivo de sofrimento. Dessa forma, nas escutas realizadas, foi possível perceber o celular também como um alvo da violência, em que muitos casos as mulheres tiveram seus celulares danificados ou até mesmo uma possível perda do mesmo, em que o agressor o atirava na parede, pisava ou levava embora. Além disso, quando a mulher perde seu aparelho celular, também perde ou dificulta seu acesso à sua rede afetiva e seus vínculos sociais, o que também pode enfraquecer mais ainda a vítima, com sentimentos como desamparo, solidão e abandono, propiciando um retorno aquele relacionamento abusivo, pois era uma fonte de ser reconhecida e receber alguma forma de atenção. Nas escutas realizadas, foi sempre enfatizado a importância de fortalecer o contato com uma rede de apoio social e afetiva para a mulher em situação de violência. De acordo com pesquisa realizada por Gomes et al. (2015), a rede de apoio de mulheres geralmente se configura através do contato com alguma religião, familiares, amigos, colegas de trabalho ou de estudo e possíveis grupos, centros ou ONGs de mulheres em situação de violência. Foi evidenciada a dificuldade das mulheres escutadas em manter contato com suas redes de apoio e afetivas, seja pelo contexto de pandemia, no qual o convívio social em partes está limitado ou por um próprio afastamento da mulher já em situação de violência, em que muitas vezes os familiares não concordam com a situação e, sem conseguir ajudar, também diminuem o contato. Percebeu-se também casos nos quais ao terminar a relação ou se afastar do agressor, a rede de apoio também se afasta da mulher,
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