Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões
Escuta de mulheres em situação de violência no contexto da pandemia por Covid-19: relato de experiência 41 formas de trabalho, procurando ampliar o acesso da ação desenvolvida às populações mais vulneráveis do município de São Leopoldo. Sobre a ação de escuta, ainda podemos pensar que, de acordo com Miranda e Miranda (1996, p. 105), a pessoa necessita apenas “ser escutada para que possa ordenar e organizar sua própria experiência. (...) À medida que vai falando, escuta sua própria voz e vai colocando em ordem os pensamentos que estavam confusos.” É possível perceber a situação por outro ponto de vista, criando uma ponte com outras possibilidades ao sentir que a experiência está compartilhada. Além disso, Miranda e Miranda (1996) enfatiza que, mesmo em casos em que a solução parece distante, o simples falar – e ser escutado – pode trazer um alívio imediato, como se escoasse parte dos sentimentos que estavam prestes a transbordar. Também sobre a escuta telefônica realizada, atenta-se para dois conceitos essenciais da clínica, explicitados por Barros (2013) como o setting e a sensibilidade do terapeuta. Para a autora, o setting seria um espaço que propicia a estruturação simbólica dos processos subjetivos inconscientes (BARROS, 2013), que pode ser alcançado através de um ambiente silencioso, de um tom de voz afetivo, de uma fluência no falar com tranquilidade e uma escuta com base na atenção e na sensibilidade para ser atravessado pelos conteúdos trazidos. O autor Barbier (2002) propõe o conceito de escuta sensível, em que se deve sentir o universo afetivo, imaginário e cognitivo do outro para que se possa compreender suas atitudes, valores, comportamentos e ideias, com uma base de aceitação incondicional do outro. A partir da escuta sensível, não se julga, não se mede, não compara, apenas compreende-se o outro e suas opiniões, sem se identificar ou aderir às mesmas (BARBIER, 2002). Após o convite da escuta ser realizado, a mulher contatada possuía a opção de ou recusar o atendimento ou concordar com o agendamento para receber a ligação. O que foi constatado fortemente foi a dificuldade de adesão às escutas, por diferentes motivos. Foram observados, de maneira qualitativa, após algumas tentativas de contato, que algumas mulheres não tinham acesso à internet no celular e algumas indicavam números que não mais lhes pertenciam. Tiveram aquelas que agendaram o seu momento de escuta, mas na hora marcada desistiram ou não compareceram. Para maiores detalhamentos acerca da caracterização das mulheres atendidas, deve-se consultar o artigo “Para além da escuta de mulheres em situação de violência: relato
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