Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

Escuta de mulheres em situação de violência no contexto da pandemia por Covid-19: relato de experiência 35 de desenvolver transtornos mentais, tendências ao suicídio e consumo abusivo de álcool e outras drogas (BITTAR; KOHLSDORF, 2013). Ampliando a compreensão da violência conjugal, sem negar as diferenças de gênero e a subordinação feminina, ela pode ser entendida de forma “dinâmica e relacional, permeada por vivências ambíguas, as quais produzem sofrimento em homens e mulheres” (FALCKE, et al., 2009 p. 88), ou seja, sem apontar a relação como agressor e vítima, mas em uma perspectiva que essas posições não sejam tão estáticas e que o relacionamento possa ser compreendido de uma forma que ambos sejam agressores e ambos sejam agredidos, mesmo que em diferentes níveis. Em uma revisão sistemática de literatura verificou- se que a violência vivida na infância, pode ser preditora de violência na vida adulta, tanto na forma testemunhar a violência intrafamiliar quanto ocupar o lugar de vítima de violência parental, o que reforça a importância do modelo familiar para aprendizagem de padrões relacionais (MARASCA; COLOSSI, FALCKE, 2013). No contexto vivenciado em 2020, a partir do isolamento social provocado pela pandemia do Covid-19, experienciado por grande parte da população brasileira, observou-se um aumento de denúncias de casos de violência doméstica. A partir de dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, (2020), as denúncias sofreram um aumento de 14,1% nos quatro primeiros meses de 2020, em comparação aos dados registrados de 2019. Além disso, percebeu- se que o mês de abril foi o com o maior aumento de denúncias, 37,6% a mais de denúncias foram realizadas, no comparativo entre os dois anos. De acordo com Vieira, Garcia e Maciel (2020), a pandemia não trouxe diretamente novos problemas para o relacionamento dentro do ambiente doméstico, apenas a exacerbação de problemas já existentes, potencializados por um convívio mais intenso dentro de casa. “No isolamento, com maior frequência, as mulheres são vigiadas e impedidas de conversar com familiares e amigos, o que amplia a margem de ação para a manipulação psicológica” (VIEIRA; GARCIA; MACIEL, 2020, p. 3). Dessa forma, além de conviverem mais com o agressor, no período de isolamento social as mulheres estão com suas redes de apoio e sociais enfraquecidas, por motivos de dificuldade de convivência presencialmente, o que também pode resultar em um enfraquecimento da autoestima da mulher vítima de violência e a naturalização dessa violência.

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