Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

Escuta de mulheres em situação de violência no contexto da pandemia por Covid-19: relato de experiência 33 De acordo com Morais e Rodrigues (2016), a violência contra a mulher pode ser compreendida como resultado das desigualdades entre homens e mulheres, sendo que o combate a essa forma de se situar em sociedade depende de mudanças nas relações de poder e na dinâmica das relações homem-mulher. Dessa forma, o empoderamento feminino é um caminho para que as relações, nos diferentes contextos (doméstico, familiar, social, de trabalho), possam ocorrer de outras formas, visando a igualdade entre os gêneros. Além disso, Morais e Rodrigues (2016) enfatizam o empoderamento psicológico, que ocorreria através de um processo de descoberta de potencialidades individuais e que se manifesta através de autoconfiança, autoestima e uma construção crítica de suas atitudes e ações, “de decidir sobre como fazer, o que fazer e quando fazer” (MORAIS; RODRIGUES, 2016, p. 100). Na mesma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa DataSenado (2019) sobre o estado do agressor, 37% revelaram que o agressor estava embriagado, 26% que o agressor estava com ciúmes, 12% inconformado com o término do relacionamento, 7% drogado e apenas 6% relatam que o agressor não apresentava alteração em seu estadomental. Apesar de vivenciaremum relacionamento violento, 66% das mulheres entrevistadas informaram não depender financeiramente do agressor. Sobre a última agressão sofrida, 31% das mulheres revelam que não tomaram nenhuma atitude, 19% procuraram ajuda da família, 17% denunciaram em uma delegacia comum e 15% denunciaram em uma delegacia da mulher. Entre os motivos para não realizar a denúncia, 66% indicaram que não denunciariam por ter medo do agressor, 27% por depender financeiramente dele e 25% por preocupar-se com a criação dos filhos. Segundo Santos e Witeck (2016), um dos principais impactos em relação à mulher em situação de violência doméstica seria a autoestima, sendo que, quando reduzida, a vítima sente-semenosmerecedora de afeto, causando um distanciamento afetivo das pessoas. Os autores reforçam que através da agressão emocional, como ameaças e humilhações, a vítima se sente amedrontada e com vergonha, o que contribui para as subnotificações de casos de violência doméstica. A pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) para o Atlas da Violência, organizada por Cerqueira et. al (2019) revela que em 2017, mais de 221 mil mulheres registraram ocorrências de agressão por motivos

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz