Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

Pandemia, descobertas e reinvenções no cuidado em saúde 27 e olhar para o medo, para o estigma, para ansiedade dos trabalhadores que estão na linha de frente. Não tem como não me conectar e não me aproximar. Isso me auxilia no sentido de poder sentar-se junto a eles e dizer “olha, eu consigo entender, eu consigo sentir o que vocês estão me explicando” e consigo abrir portas e janelas para que os próprios trabalhadores pensem em quais são as suas estratégias para lidar com essas suas demandas e também para lidar com as demandas de quem a gente precisa cuidar. Comissão Cadernos do PAAS – Uma das questões que levantadas nas diferentes formas de registrar tuas experiências é a possibilidade de reinvenção frente às crises e emergências sociais. Pensando nisso: Como consideras que a Pandemia pode influenciar nas relações sociais e dos sujeitos com seus próprios corpos? Débora Noal – Eu considero que a pandemia pode sim influenciar as relações sociais e dos sujeitos com seus próprios corpos, mas muito mais do que o evento em si – chamado de evento crítico, que é a pandemia – a nossa capacidade de parar e olhar: quem nós somos nessa pandemia? Quem nós éramos antes dessa pandemia? E quem nós nos propomos a reconfigurar para nos reinventarmos, enquanto humano, enquanto sujeito? Eu costumo dizer que muitos de nós já estávamos em um distanciamento afetivo, mas não corporal. Que a pandemia nos traz essa perspectiva de que podemos sim nos distanciar fisicamente e ao mesmo tempo nos aproximarmos afetivamente. Então, esse é o nosso grande desafio e acredito que a gente pode sim superar. Comissão Cadernos do PAAS – Estamos frente a uma ressignificação do “humano”? Débora Noal – É possível ressignificar esse humano desde que nós estejamos conscientes de que humanos éramos nós antes da pandemia e quais partes do nosso humano nós queremos de fato ressignificar. Esse é um trabalho que é individual, mas também coletivo. Costumo brincar que a saída numa pandemia é primeiro para dentro e depois para fora. Primeiro a gente olha quem nós éramos, quem nós somos agora e quem queremos ser. Depois a gente olha para o lado e tenta identificar quem são nossos pares e como fazer isso de uma forma articulada e compartilhada para que isso tenha de fato um impacto grande, a nível mundial. Comissão Cadernos do PAAS – Podemos dizer algo à Psicologia como profissão?

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