Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

182 Entrevista com Emerson Merhy foi vivendo experiencias distintas. Enquanto Milão tomou essa atitude, outras cidades a acompanharam e outras não. Outras cidades fizeram isolamento sanitário, uma barreira sanitária, fizeram isolamento radical e até hoje praticamente não tem mortes nessa região, nessas cidades mesmo sendo na região norte da Itália que foi o boom da pandemia lá. Eu estava em Bologna na época e vivi esse processo de esperar a chegada da pandemia em Bologna e estavam tomando também a medida, na época, de isolamento sanitário, não de isolamento dentro da cidade, a cidade continuava circulando, mas uso de máscara, a gente começou a usar máscara intensivamente. Numa das experiências na Lombardia que é onde Milão está, uma das cidades teve uma catástrofe total, porque tinha só um hospital e dentro dessa catástrofe, a morte de centenas de pessoas. Isso fez a equipe de saúde tomar uma atitude, e eles escrevem um documento principalmente capitaneado pelos médicos – vamos logo dizer que a saúde pública e a medicina ou as práticas de saúde na Itália são todas medicocentradas. Os outros profissionais são todos secundários. Seja no que se chama de atenção primaria, seja do que se chama de cuidados intermediários, seja no que se chama de cuidados hospitalares. Então o grupo de médicos se juntou e escreveu uma carta e nessa carta eles dizem “cometemos um erro”, desprezamos a capacidade da comunidade de produzir cuidado. Olha, isso é final de fevereiro, começo de março. Ora, esse documento, se você compara com documentos produzidos pela Organização Mundial de Saúde, a OMS, que a partir do meio de janeiro começa a fazer boletins diários – se você entrar na página da OMS, você vai lá nos reports da OMS, e você vai acompanhando diariamente eles soltando os boletins – no dia 20/21 de janeiro emite uma normativa de fechamento dos serviços territoriais e de deslocamento das equipes para triagens e hospitais. Isso vira um desastre, do ponto de vista do processo de cuidado. A China mostrou esse desastre. Cuba, não sei se vocês acompanham, Cuba e Portugal mostram o êxito do cuidado no território. O contrário do que a OMS estava indicando. Mas o que eu estava querendo revelar nessa fala é o quanto a pandemia trouxe para a cena de novo que o tema do cuidado é algo que extrapola um pouco a forma como a gente pensa o cuidado instituído nas ofertas que a gente faz através das modalidades de práticas de cuidado, a partir dos territórios organizados pelas profissões de saúde. Mesmo que sejam de propostas interdisciplinares, multidisciplinares e tal. Eu penso que a pandemia

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