Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

A pandemia, as medidas insanitárias e os desafios por um processo civilizatório da melhor humanidade possível 179 Na medida que esse processo vai operando na construção brasileira, do meu ponto de vista, vai adquirindo todas as características de uma ciência de estado. E ela vai meio que voltando a se sanitarizar. Deixa explicar isso rápido que eu já chego na pandemia. Que é a Saúde Coletiva Brasileira, ela faz uma ruptura com a Saúde Pública. Ela faz uma ruptura com a Saúde Pública que sempre foi uma Ciência de Estado. A Saúde Pública sempre foi uma ciência de Estado! Ela sempre foi para produção de corpos, vigilância e controle de corpos. Ou seja, aquilo que é o centro da política. A Saúde Coletiva tem uma ruptura com a Saúde Pública e ela vai tentar enfrentar isso a partir de um certo momento. Em especial da metade para o final dos anos 90, ela começa a sofrer uma auto disciplinarização, um mecanismo de institucionalização e uma busca de reconhecimento oficial como campo científico. Inclusive como território instituído no plano acadêmico. E isso vai fazendo com que a Saúde Coletiva vá produzindo um conjunto de estratégias e de aparatos que vai a deslocar do território da ciência nômade pra ciência de estado. E à medida que ela vai percorrendo isso, vai passando a ser um conjunto de estratégias a produção, controle de vigilância de corpos. E vai ter uma profunda influência sobre o Sistema Único de Saúde que a partir da sua ação, apesar de ser um sistema que ainda defende claramente a saúde como direito a questão pública, vai constituir-se em uma máquina de biomedicalização da vida. O Sistema Único de Saúde é uma das poderosas máquinas de biomedicalização do viver. A partir deste período a Saúde Coletiva vai se sanitarizar. Ela vai perdendo aquelas características de emergência, da sua emergência e vai se tornando cada vez mais Saúde Pública. Hoje o SUS é Saúde Pública, hoje o SUS é produção, controle, vigilância de corpos. Essa conferência (com este tema) eu fiz em 2016. Não havia pandemia nenhuma na cena. A pandemia tornou a situação mais visível e explícita possível! Porque se você for pra dentro da disputa biomédica que tem sobre o controle da pandemia, você vai ver que quando o campo do Sistema Único de Saúde vem e disputa as medidas para fazer o controle ele vem com o discurso biomédico. A mostrar que ele é o campo do discurso competente. Ele não vem com o discurso de desterritorializar a concepção biomédica hegemônica. Não, ele vem e diz esse conteúdo, esse conhecimento é meu. E é isso que me faz potente. Então essa questão tá na mesma mão que eu mencionei antes no campo a esquerda. Ou seja, diante do esgotamento, em vez desses

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz