Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões
A pandemia, as medidas insanitárias e os desafios por um processo civilizatório da melhor humanidade possível 175 Então, afirmar pela Ciência Oficial que nós estamos diante de uma História Natural da COVID é um atraso e você vê setores da esquerda fazendo esse discurso, inclusive no Brasil para contestar as Medidas Insanitárias. Então você usa de um paradigma ou uma perspectiva de mundo em nome do discurso científico que é tão, tão, esgotado quanto outro que vem se posicionar, mas com uma diferença radical, os que estão na Medida Insanitária estão disputando processos civilizatórios, os que estão na ciência estão com posições, eu vou falar isso hein, conservadoras, reafirmando paradigmas que estão esgotados e que hoje pedem para a gente encarar de frente o que o não-saber tem a nos dizer perante ao que nós achávamos que sabíamos muito. Que tipo de efeitos isso pode ter para uma aposta civilizatória distinta dessa aposta civilizatória do grupo libertário de extrema-direita? Então isso é uma pauta que está ainda para ser construída, nós estamos atrás nesta disputa política. Cadernos : É fundamental, então, qualificar as práticas desse percurso civilizatório da direita e da extrema-direita como algo absolutamente intencional, quer dizer, tem uma intencionalidade de produção que também está associada à produção de desejos, inclusive de desejos de aniquilamento. Ou seja, há movimento ativo nesse sentido; não é somente uma confusão, não é só uma situação de negação da realidade. Ao longo do tempo, quem foi como tu és, protagonista da própria criação do Sistema Único de Saúde (SUS) da sua manutenção, o seu fortalecimento, enfim, deve ser imperativo pensar essa alternativa civilizatória ao projeto liberal de extrema direita. O SUS desde sempre enfrentou e vem lutando ao longo do tempo com estas perspectivas liberais, mas isso que tu nos trazes é da ordem de uma situação ainda mais difícil, ainda mais refinada na medida que é produção subjetiva, produção subjetiva de desejos. Como deve ser para quem, como tu, que fez a história da saúde coletiva junto com tanta gente; como está pensando o que é possível em relação ao Sistema de Saúde frente a precarização das políticas públicas de saúde? Merhy : É, eu brinco um pouco com os coletivos que eu trabalho né, talvez tenha uma certa similitude sem ter total aderência a forma como a Rolnik 12 elabora as coisas dela, mas me atrai muitas coisas que 12 Suely Rolnik é Professora Titular da PUC-SP. Possui graduação em Sociologia pela Sorbonne (Paris VIII, 1973), graduação em Filosofia pela Sorbonne (Paris VIII, 1975), graduação, mestrado e Diploma d’Estudos Superiores Especializados de Ciências Humanas Clínicas pela Sorbonne (Paris VII, 1978) e doutorado em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1987). Sua
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz