Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

172 Entrevista com Emerson Merhy decidir sobre isso. Ao Estado caberia garantir o mecanismo do funcionamento normal, por exemplo, do mercado, para que as pessoas tomem as suas decisões. A gente vê assim, o máximo onde chegou aquela posição de Margaret Tatcher 6 dizendo que a sociedade não existe. Cadernos : Parece uma perversão. Merhy : Então... mas é uma perversão que é mais que perversão. É uma disputa política de produção de corpos, que no olhar foucaultiano – que é um olhar muito rico sobre isso – é o cerne da política. O que é a política se não for a de produção, controle e vigilância de corpos? Não é? A política é substancialmente isso, a política é o conjunto de estratégias que estão vinculadas a produção, vigilância e controle de corpos. Cadernos: “Oconsumoda ideia de liberdade...” é extremamente importante que a liberdade se torne um produto de consumo para manter uma política de dominação. Esse caminho torna muito difícil de se pensar numa história social da doença? Merhy: Aliado a tudo isso que já se viveu, tudo isso que já se tem acumulado e essas condições arraigadas e mesmo até a dificuldade desses movimentos que não conseguem mexer com coisas que são absolutamente evidentes. Mas há uma disputa. Se você juntar a perspectiva por exemplo desses cinco países que eu estou nomeando – tem outros, mas se você juntar, você vai ver, e aí é nítido –, se você pegar o pensamento do bolsonarismo, se você pegar o pensamento do trumpismo, ou se você pegasse o pensamento de Margaret, você vai ver que não cabe a categoria social da doença porque o social não existe. O máximo que se pode admitir, é a história natural da doença, pois eles constituem uma separabilidade muito nítida, que não a pertence só a eles: natureza e cultura. Nós não somos natureza, e estamos sendo agredidos pela natureza, e é assim que é a história da humanidade. Isso é que dá uma certa força argumentativa, porque também, essa visão de separação 6 A dama de ferro como ficou conhecida, Margareth Thatcher com sua persona - lidade forte foi a primeira mulher a chegar ao cargo de primeira-ministra da Grã- Bretanha e bateu o recorde no poder ao permanecer por onze anos no comando. Margareth Thatcher adotou um modelo de governo que seria o precursor do cha- mado, mais tarde, de neoliberalismo e teve definida sua maneira de governar como autoritária sendo acusada depois de não levar em conta a situação dos desempre- gados durante seu governo ( https://www.infoescola.com/biografias/margareth - -thatcher, visitado em 6 nov. 2020).

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