Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

A pandemia, as medidas insanitárias e os desafios por um processo civilizatório da melhor humanidade possível 169 experenciando claramente, esgotamentos de várias ordens, do ponto de vista da organização de certas apostas na construção de mundo. E um dos esgotamentos que a gente vive, já vivia e que a Pandemia põe na cena é isso que nós podemos chamar da ciência instituída. Esta ciência oficial, instituída que se coloca como um campo predominante do ponto de vista da produção da verdade sobre as coisas e que cria uma imagem de que a razão humana, que é produtora desta mesma ciência, dentro da racionalidade deste território, teria uma potência incrível de intervir positivamente no mundo, do ponto de vista de construir um processo civilizatório da melhor ordem humana possível. Peter Paul Pelbart já caracteriza, há bastante tempo, muito antes dessa pandemia em um diálogo forte com o pessoal da filosofia da diferença essa questão do presenciar o esgotamento. Eu acho que a pandemia traz isso para a cena de uma maneira brutal e apresenta uma situação que vai ser vivenciada de maneiras muito distintas em diferentes lugares conforme essas conformações de contextos, que também são muitos distintos e das forças que os compõe. Você vê que não é à toa a importância de nominar países que nem Chile, Estados Unidos, Brasil, agora índia, Bélgica, estou citando cinco países em situações de crise sanitária de altíssimo nível. Então estes cinco países que estou citando, eles, explicitamente estão em uma situação que você poderia dizer: estamos perdendo vidas que não precisaríamos perder. Se tomássemos como modelo de padrão, por exemplo, dois países: a China e a própria Coreia do Sul. Se tomássemos como o que se chama, em uma certa área de conhecimento, como um “benchmarking” e comparássemos o que estes cinco países têm de indicadores e de situações, nós diríamos que o Brasil, por exemplo, com cento e trinta e um mil, caminhando para cento e trinta e dois mil mortes confirmadas, com o diagnóstico de COVID, está mal. E aqui eu já faço uma abertura; temos muito mais do que cento e trinta e duas mil mortes, certo? Cento e trinta e duas mil utilizando os critérios do pouco número de diagnósticos que a gente faz e poucos testes que a gente faz, porque com certeza, pelos dados que a gente tem epidemiológicos e pelos estudos de mortes, a gente já ultrapassou cento e sessenta mil mortes, por exemplo no Brasil; se não estiver perto dos duzentos mil. Ou seja, esse é um esgotamento interessante, o esgotamento do saber perante a formação de um não saber, eu volto a isto depois se interessar, porque eu acho que a Covid coloca esse tema: o que é a produção, não do saber, o que é a produção

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