Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões
Diferentes contextos da prática clínica e as transposições para o atendimento virtual 159 propriamente seguem outra lógica. Enquanto se trabalha com os pais e responsáveis sob o efeito da transferência, com o paciente se trabalha a possibilidade de inscrição da linguagem e dos limites nas relações, na ordem do possível dessas operações em cada caso – cabendo a observação de que a criança também pode operar em transferência com o terapeuta, porém esta estará atravessada pela transferência com aqueles que sustentam o tratamento. O objetivo aqui não é entrar na fundamentação clínica para essas operações constituintes, mas apontar que nesses casos existem obstáculos maiores e diversos à manutenção do tratamento pela via da modalidade virtual. Tanto no consultório quanto nas instituições, percebeu-se a interrupção de tratamentos de crianças cuja demanda estava sustentada no pedido de alguém que não eram os pais ou responsáveis efetivamente, mas a escola, por exemplo; ou algum outro terceiro que constrangia esses a manter um atendimento psicológico ocorrendo. A partir dos eventos da pandemia, passou-se a experimentar diversas recontratações no modo de operar o atendimento psicológi- co. Para ilustrar, a estrutura que antes se caracterizava pelo ambiente da instituição, o meio de transporte do local – ou da prefeitura – que buscava o paciente em casa, passou então a ser constituído por uma chamada de vídeo no ambiente de casa, composta por áudio, câmera e volume de som. Nesse sentido, foi necessário um exercício de delimita- ções para essa experiência. Ter o telefone do terapeuta deu ao paciente um canal direto sem a barreira da instituição, o que trouxe a necessi- dade de contratar como fazer uso do mesmo, em que horário poderia acessar o terapeuta, com que duração e por qual finalidade. Do mesmo modo, com o paciente do consultório particular também houve adap- tações no contrato da relação terapêutica. O acesso ao cenário mais íntimo da casa trouxe possibilidades de colocar em trabalho questões propiciadas por esse ambiente, incluindo o animal de estimação, os ruí- dos da casa, a presença dos familiares, o modo de configurar o cenário, a escolha de onde realizar o atendimento, a forma de pagamento da sessão, dentre outros. Observou-se que vários aspectos dos modos de atuar presencialmente se mantiveram como característica no atendimento virtual, como o caso de uma paciente que sempre se atrasava para chegar no atendimento. No âmbito virtual, ela comparecia primeiro enviando uma mensagem para informar que dentro de alguns minutos
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