Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

Diferentes contextos da prática clínica e as transposições para o atendimento virtual 157 A transposição dos atendimentos psicológicos para a modalidade virtual O Código de Ética Profissional do Psicólogo aponta três fatores de especial relevância para as reflexões sustentadas nesse relato de experiência. O primeiro, em sua introdução, é a ideia de que o código de ética não tem como missão ser um normatizador da técnica – aspecto esse que cada profissional buscará na sua especificidade –, mas sim um instrumento gerador de reflexão sobre a prática, onde se asseguram alguns valores considerados importantes para a sociedade e para o desenvolvimento dessas práticas. O segundo fator é a abordagem sobre o psicólogo assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente – ponto que nos remete à pergunta sobre como e o que capacita um profissional de Psicologia a trabalhar, por exemplo, com a modalidade do atendimento virtual. E o terceiro é a orientação de prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional. (CFP, 2005). A partir destes princípios, pode-se introduzir na presente discussão a abordagemda Psicanálise como fundamentode competência técnica, dentro dos parâmetros do código de ética profissional, para o trabalho da clínica e de outras atividades desempenhadas por um psicólogo. Também é possível tomar-se a Psicanálise como uma das linhas teórico-metodológicas reconhecidas pela Psicologia. Assim, uma primeira formulação a ser abordada é o conceito de transferência da teoria psicanalítica, pois trata-se de um dos quatro conceitos fundamentais da Psicanálise (LACAN, 1964/2008) e atravessa o manejo da técnica nos diferentes espaços de atendimento psicológico contextualizados aqui. Diversos textos da teoria psicanalítica 2 o abordam, sendo essencial esclarecer para as nossas reflexões que a transferência é um endereçamento ao outro (esse no lugar de terapeuta, médico, analista), que parte de uma suposição do paciente de que o terapeuta em questão sabe sobre ele. Nessa perspectiva, o paciente resiste a esse saber, por isso mesmo transferindo o conteúdo do saber 2 A dinâmica da transferência (FREUD, 1912); Compêndio de Psicanálise (FREUD, 1940).

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