Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

Do eclipse aos raios de sol: um relato de atendimento clínico interrompido pela Covid-19 143 alguns meses de psicoterapia, foi cogitado que a menina pudesse vir duas vezes por semana, mas foi inviabilizado pelo abrigo. À medida em que os atendimentos foram se intensificando, Sol começou a conseguir elaborar o que vinha sendo trabalhado a partir de intervenções mais diretas sobre nosso relacionamento. Conseguia cada vez mais produzir conexões, ao mesmo tempo que se dizia mais angustiada que anteriormente. Contava em como, agora que era falado e pensado, esses conteúdos produziam nela um descontentamento e um desejo de que as coisas fossem diferentes. Nesse momento, o abrigo começa a reclamar das atitudes da menina, que começa a questionar as regras do local, assim como buscar seus desejos e novos interesses. A assistente social relata que Sol era extremamente complacente, obediente e pouco incomodava na casa, mas que nas últimas semanas começara a querer sair do abrigo, brigar por coisas que antes não a incomodavam e ser muito mais agitada, principalmente nos relacionamentos interpessoais. Ao construir, junto de minhas intervenções, ligações entre sua mãe biológica e como representava Juliana, assim como minha representação e a de Marcos, Sol retira os óculos em uma sessão e me comunica que tem muito o que pensar, esperando que possa retornar semana que vem e me contar o que refletiu. Se diz triste, mas ao mesmo tempo feliz de poder ver algumas coisas diferentes, mas que saberia que esse seria um momento difícil para ela. A sessão seguinte segue com a menina mais reflexiva, sem a característica de descarga que lhe era comum. Essa foi a última sessão que tive com Sol. A Pandemia do Covid-19 se instaurou no Brasil e não pudemos dar sequência aos atendimentos. Com a proibição do CFP para a continuidade da psicoterapia on-line por estagiários, meu contato com a paciente se tornou restrito até agosto de 2020. Os Raios de Sol: Discussão do caso Assim como afirma Freud (1926/1976), a angústia do discurso de Sol era um sinalizador de seu sofrimento, na medida em que utilizava da fala como um processo de descarga, não de elaboração. A angústia presente no ego de Sol alertava uma dificuldade da menina de ligar os afetos a novas ideias, não conseguindo produzir ligações ou conexões,

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