Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

140 Eduardo Brusius Brenner a transferência como objeto de trabalho. (FREUD, 1915/1976). Após 8 meses de prática, a interrupção de todos os atendimentos aconteceu devido a eminência da pandemia do Covid-19, não sendo possível serem retomados de forma on-line. Assim, nesse relato de experiência, articularei minhas sensações e contratransferência dessa primeira prática como psicoterapeuta com uma paciente adolescente, os conflitos da paciente e a interrupção do atendimento devido a pandemia do Covid-19. Esse ensaio visará discorrer sobre a díade terapeuta-paciente, no seio de uma relação transferencial que é cindida pela realidade externa. Aos responsáveis pela menina foi apresentado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que foi assinado consentindo a utilização do caso clínico como objeto de estudo, podendo ser utilizado para publicações futuras. Os nomes foram alterados buscando manter protegidas as identidades dos participantes. O Eclipse de Sol: Caso Clínico Sol é uma menina de 13 anos que chega ao instituto em procura de psicoterapia a partir de um pedido pessoal para a assistente social do abrigo 2 . Através de uma entrevista com a assistente social responsável, a profissional relata diversas experiências com a menina em seus anos de abrigamento. O afastamento da família havia acontecido em função da prostituição da mãe, que acabava por levar clientes para dentro de casa com a presença das filhas. Sol, na visão da assistente social, não compreendia o motivo do afastamento e se mantinha em defesa da mãe, não vendo nenhuma falha da figura materna, assim como mantinha um desejo de retorno à família. Diz que a menina possuía padrinhos afetivos e desconfiava que eles estavam pensando em descontinuar o apadrinhamento. Acreditava que o fator decisivo para o desejo de atendimento de Sol seria a possibilidade de adoção da irmã por uma mulher de Minas Gerais. Além de Eva, Sol possui outras duas irmãs mais novas que já foram adotadas, sendo ela a única entre as irmãs que não entrou 2 O abrigamento é uma medida especial de proteção prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no art. 101, como medida provisória e excepcional quando há ameaça ou violação de direitos da criança ou adolescente. (http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm visitado em 13/11/2020)