Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões
102 Vera Regina Röhnelt Ramires longo caminho a percorrer, e cuidar da saúde mental dos pequenos é um desafio importante que se apresenta cada vez mais necessário. Na técnica psicanalítica, o brincar tem grande espaço para o trabalho com as crianças, já que a brincadeira é a forma de linguagem da criança que fala sobre suas pulsões e traumas: “Qualquer criança possuidora de mínimas condições para se comunicar desenha ou se expressa por outros recursos imaginários próprios da infância (garatujas, modelados incipientes, manchas com pintura ou alguma modalidade do brincar). Essas produções emergem pelo e no laço transferencial.” (MOLINA, 2011, p. 44) Em tempos de isolamento social, ao pensarmos espaços que permitam o exercício da imaginação, encontramos nos contos de fadas uma importante ferramenta para trabalharmos esse imaginário, pois como bem observa Bruno Bettelheim (2019, p.67) “Os contos de fadas deixam para a própria fantasia da criança a decisão de se e como aplicar a si própria aquilo que a história revela sobre a vida e a natureza humana.” A contação de histórias, mesmo que de forma on-line, tem se mostrado muito potente, pois através do envolvimento e identificação das crianças com as histórias e personagens pôde-se entender as principais demandas e conflitos de cada um. Assim, encontram- se novas histórias que façam sentido e que possam trilhar de modo terapêutico, juntamente com os desafios apresentados pelas crianças. A partir disso, nos encontros, foi possível perceber o quão direta é a ligação das crianças com o mundo imaginário das histórias infantis, já que “a criança ainda não delimitou as fronteiras entre o existente e o imaginoso, entre o verdadeiro e o verossímil (fronteiras estabelecidas, em parte, pelo recalque das representações inconscientes)” (CORSO; CORSO, 2006, p. 17) e por conseguinte, “todas as possibilidades de linguagem lhe interessam para compor o repertório imaginário de que ela necessita para abordar os enigmas do mundo e do desejo.” (CORSO; CORSO, 2006, p. 17). Como a psicanálise se propõe a trabalhar com a linguagem, e para a criança todas as formas de linguagem são possíveis e lhe interessam, trabalhamos com nossos pequenos a partir da via do contar, do brincar, do desenhar. A literatura para crianças que passam por abandono e negligências pode ter ainda um adendo de importância, servindo como uma película protetora, uma camada que permite
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