Saúde e cuidado no serviço escola: adolescência presente!

Celma Matos Campos, Joice Costa da Silva Gomes e Lígia Hecker Ferreira 77 Segundo Ferenczi citado por Mendonça (2017), estas adolescentes quando se encontram nestas situações acabam tendo que usar seus próprios recursos para lidar com seus conflitos, na medida em que observamos que a pulsão de vida foi minimamente investida nestes indivíduos, sendo a pulsão de morte muito presente, em diferentes momentos a fragmentação do Eu é utilizada como tentativa de sobrevivência. (MENDONÇA, 2017). Para as adolescentes este é também um momento de transformações nas relações, de intensas relações com o corpo, com os laços libidinais e agres- sivos com a família, assim como com a cultura. As características comuns de impulsividade e instabilidade são oriundas de um corpo aprisionado nos aspectos concretos e não simbolizados, pautados em falhas no revestimento narcísico, que apresentam descargas sexuais e/ou autoagressivas. (CASTRO, TIMMEN, 2009). Em nossos encontros iniciais apareceu em diferentes mo- mentos, narrativas sobre seus cortes, como faziam, quando faziam e em al- gumas aparecia como uma maneira de cortar o fluxo da dor, o que no grupo aparecia na forma de descarga de tensões, quando despejam o que estão sen- tindo e depois acabam se desconectando da atenção do grupo, pois parecem já se aliviaram. Nossa função enquanto terapeutas, conforme Bróide (2014), era de contribuir para que elas pudessem se expressar, sentirem que ali na- quele espaço podiam ser elas mesmas e não apenas transformar em palavras seus conflitos, quando possível, mas que sentissem que estavam sendo com- preendidas, olhadas, ouvidas e acima de tudo acolhidas, experienciando um outro modo de existir. Algumas considerações... “Tomando consciência dos sentimentos provocados em nós, é que poderemos compreender o sofrimento e agir terapeuticamente”. (STRUMER; CASTRO, 2009). A experiência como grupoterapeutas demandou o exercício de se des- pir de verdades enquanto psicólogas em formação, deixando-nos afetar, a cada encontro pelas alteridades, construindo nosso jeito de ser terapeutas daquelas meninas. Desta forma, fomos entendendo que nosso fazer psi neste grupo de- vido às questões e sofrimentos que elas nos traziam, nos convocava a desenvol- ver o que Figueiredo (2009), considera ser uma reserva implicada . Entendemos a importância de possuir reservas psíquicas que nos mantivessem numa distância o suficiente das pacientes, de modo a não cedermos à tentação de nos colocar- mos como “salvadoras” entregando tudo de nós para aquelas meninas. Como terapeutas, enfrentamos diversas questões desafiadoras, como o silêncio de participantes que não conseguiam se colocar no grupo. Foi pre-

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