Saúde e cuidado no serviço escola: adolescência presente!

Celma Matos Campos, Joice Costa da Silva Gomes e Lígia Hecker Ferreira 75 possível para seu velado sofrimento. Neste sentido, Winnicott nos aponta a privação como sendo a falta de um olhar de desejo do Outro para com este indivíduo, causando o desamparo, resultado de funcionamentos disfuncio- nais. (TOMASI; MACEDO, 2015). Desta forma, através desta escuta sensível junto às meninas preten- díamos a criação de um espaço-tempo grupal em que elas pudessem tanto compartilhar como se sentiam em suas famílias como ensaiar outros modos de ser, e então poder pensar como também poder viver diferente e se afirma- rem sujeitos em outras relações. Através do trabalho com os pais, tínhamos o intuito de promover um certo olhar diferenciado nestes, sensibilizá-los em relação às suas filhas de modo que as mesmas pudessem, pouco a pouco, sentirem-se autorizadas a também demonstrar seus sentimentos e fragilidades no ambiente familiar. Quando uma experiência pode ajudar a avançar... Para falar de processualidades subjetivas grupais, escolhemos um en- contro onde reconhecemos um certo esforço de elaboração e de construção de si acontecendo. Em um determinado dia, na hora de iniciar o encontro, não havia energia elétrica, na sala que realizamos o grupo, as meninas já se encontravam na sala com uma das terapeutas e, após as tentativas frustradas de religar a energia e a sugestão de irmos para outro lugar, não aceita por elas, uma das terapeutas entra na sala e diz brincando: ‘não consegui dar a luz’. Foi quando uma das meninas fala: ‘Ai que nojo isso que você falou’, referindo que dar a luz era algo nojento e esse assunto ficou na roda, sendo colocado por algumas que não de- sejavam ter filhos e não tinham vontade de casar, depois de a palavra circular e outros assuntos serem motivo de reflexões, foi enunciado, por uma das adolescentes, que queria ser um feto e ficar guardadi- nha na barriga da sua mãe. Com a falta de energia o grupo parecia atuar tal enunciação. Colocaram-se em círculo, deitadas e sentadas em almofadas no chão, bastante próximas e, na medida, em que foi ficando mais escuro, iam encontrando jeitos de ali permanecer jun- tas, ligaram as lanternas dos celulares, colocaram um copo acima da lanterna, assim propagando a proporção da luz e a duração do gru- po. Elas apoiavam a cabeça em almofadas e os celulares iluminavam a escuridão. Percebíamos o quanto estavam muito próximas fisica e afetivamente, com maior intensidade que nos encontros anteriores e dando a pensar que o pertencimento e o viínculo ao grupo estava estabelecido, sendo perceptível que na medida em que foram falando de si iam afetando umas às outras, promovendo assim como afirma Deleuze ao citar Espinosa: ‘Somos afetados e afetamos nos encon- tros entre os corpos’ (DELEUZE, 2002, p. 128).

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