Saúde e cuidado no serviço escola: adolescência presente!

74 Uma clínica grupal com adolescentes em padecimento de um grupo de adolescentes, procurando falar com elas daquilo que estavam trazendo, permeadas por uma escuta sensível para suas difíceis experiências de vontade de morrer, de práticas de cortes ou de violência doméstica. Segundo Kupermann (2008, p. 121) Falar ‘com’ implica, portanto, o estabelecimento de um espaço de jogo para o qual influem não apenas o ‘conteúdo’ do que é dito, mas também o tom de voz,o ritmo da fala, bem como a gestualidade que a acompanha, os silêncios e os risos, o que exige do psicanalista o pleno exercício de sua sensibilidade. A escuta sensível, que nos fala Kupermann, é baseada na empatia, é estar aberto para sentir o estado afetivo e cognitivo do outro, de uma forma em que este não se sinta julgado e sim compreendido. (BARBIER, 2002). A marca da delicadeza proposta por Ferenczi está no alerta de que o aban- dono traumático experimentado pelo paciente não se reproduza na expe- riência transferencial, preocupação que nos acompanhou como terapeutas. (KUPERMANN, 2008). O olhar do terapeuta, seus gestos, e o simplesmente estar junto , permite que a confusão do paciente, perca a força e através do narrar-se e ser acolhido diferenciadamente, se produza um novo sentido. A psicoterapia é a oportunidade de oferecer ao analisando um ambiente capaz de lhe oferecer segurança para aos poucos mostrar-se a si mesmo e ao(s) ou- tro(s). (GUTFREIND, 2010). Essa forma que o grupo foi tomando e o contorno que este espaço produziu, eram perceptíveis nas meninas, o setting grupal e nossa escuta clí- nica foram parecendo importantes para o momento que aquelas adolescen- tes estavam vivendo. Essa posição enquanto terapeutas estava inspirada em Meira (2009, p. 45) ao colocar que “Precisa gostar genuinamente deles, de estar e de trabalhar com eles. Tenha curiosidade, respeite-os e leve-os a sério”. Desta forma, procuramos construir esse espaço com estas adolescentes, pos- sibilitando que se sentissem à vontade para atuar e trazer seus conflitos para o grupo, buscando refletir sobre o que estavam sentindo, sem soluções falsas, mas procurando dar espaço para autenticidade. (LEHMAN, 2012). Também encontramos no processo grupal o que Castellar e Freitas (1989) afirmam de que um caminho de resolução da crise adolescente está pau- tado na elaboração de lutos, sendo alguns destes, a perda idealizada do corpo, da identidade e dos pais infantis. Sendo possível verificar em algumas das meninas este processo de vivência destes lutos e o sofrimento causado, en- tretanto em outras tal sofrimento traduz-se em comportamentos infracionais, como pequenos furtos e recorrentes mentiras nos fazendo pensar que pode- ria estar aí o desejo desse sujeito de ter o que não lhe foi possível ou o que lhe foi roubado, ou talvez ainda tentar encontrar algum lugar, uma narrativa

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz