Saúde e cuidado no serviço escola: adolescência presente!
Celma Matos Campos, Joice Costa da Silva Gomes e Lígia Hecker Ferreira 67 gencia o estabelecimento de trocas entre os profissionais, que assim como no caso de Marília, não havia recebido uma avaliação psicológica ou psicopeda- gógica com acompanhamento posterior. Para o grupo, a reação ao conteúdo do laudo na entrevista devolutiva expressou a construção subjetiva feita sobre um diagnóstico, pois, mesmo que, por um lado, ele possa carregar um estigma consigo, por outro, ele es- pecifica e limita as dúvidas e possíveis acusações. Nesse sentido, torna-se mais difícil justificar para o outro uma dificuldade ocasionada por um fator psicológico. Assim, essa ausência de diagnóstico no senso comum pode ser confundido com não ter nada , o que abre espaço para a culpabilização do pró- prio sujeito. Fica evidente que essa negação e o medo da perda do diagnóstico por parte de Marília e da irmã mais velha demonstram o quanto o saber da Psicologia é subestimado. Adolescência e luto No contato que tivemos com Marília, foi perceptível o quanto as di- ficuldades de aprendizagem interferiram nos seus processos de identificação e subjetivação. A adolescência por si só já se caracteriza como um período de mudanças e questionamentos por vezes bastante intensos, nesse sentido, Essa falta de lugar para o que se sente e se pensa, causadora da an- gústia, é decorrente de uma dificuldade de localizar a si mesmo. Em processo de abandonar o posto de criança amada e protegida, às vésperas de trair esse vínculo familiar com novos amores, os quais, na prática, ainda não existem, encontramos esses jovens estreantes habitando um território desértico. Órfãos do passado, o lugar que ocupam é ainda virgem de um futuro que eles duvidam que virá. Nesse futuro almejado, voltará a haver amores sensuais, fraternos, familiares, mas esses ainda precisam ser criados. Olhando para si mesmo e em volta, nada leva a crer que se seja capaz de tal façanha. Dificilmente acreditamos no amor em potencial; apenas quando ele de fato nos ocorre (CORSO, M.; CORSO, D., 2018, p. 60). Como consequência desta angústia vivenciada são desenvolvidas modalidades defensivas na intenção de lidar com as questões características desta fase. Ainda assim, essas defesas podem passar a se caracterizar como patológicas caso o adolescente não tenha espaço para elaborar o que está experienciando (TANIS, 2009). Vimos em Marília uma tentativa de utilizar o momento da avaliação psicológica como uma possibilidade de narração de sua trajetória até então. Somados ao luto da mãe, o término da avaliação e a notícia do não diagnóstico pareceram se configurar como novas perdas a serem elaboradas.
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