Saúde e cuidado no serviço escola: adolescência presente!

66 Uma clínica grupal com adolescentes em padecimento Podemos tentar pensar onde se originou essa segregação e a origem dessa instituição. A escola pública, gratuita e obrigatória como conhecemos foi construída no século XVIII, na época do despotismo esclarecido. É no fim desse século e no início do XIX que surge na Prússia a primeira estrutura mais próxima do que temos hoje, com o intuito de evitar revoluções e manter o regime absolutista da época. Após esse período, esse modelo de educação foi considerado excelente por diversos países e começou a se propagar. O discurso que acompanhava essa propagação do modelo era de educação para todos e igualdade, entretanto, não podemos esquecer os objetivos fundamen- tais a que se propunha, um modelo que tinha objetivo de perpetuar modelos elitistas e divisão de classes. Essa educação vem como se fosse um favor e um esclarecimento concedido às pessoas, porém, com o passar dos anos ela se transforma em uma causadora de adoecimentos de todos os tipos a todos os sujeitos que convivem nesse meio. Os sujeitos do final do século XVIII não são os mesmos do século XXI, mas isso parece ainda não entendido. (LA EDUCACIÓN…, 2012). Partindo dessa retomada histórica, parece haver pouco espaço para singularidade, porém, muito sobra para a individualização de dificuldades de se adaptar a essa proposta. Podemos pensar nos alunos que não se adaptam a esse sistema como alunos-problema , aqueles que não só fazem perguntas ines- peradas e fora de contexto ou que são calados pelos bons alunos, mas aqueles que não correspondem ou acompanham a linha de raciocínio esperada pela professora, que não são despertados pelos conteúdos tradicionais da sala de aula. (PASCUAL; JUSTA, 2009). O uso do diagnóstico, como no caso da dislexia, surge para dar supor- te à individualização das questões de aprendizagem nas escolas, pois aqueles que não correspondem às expectativas são encaminhados para serviços da rede na tentativa de corrigir essas dificuldades ou desvios. A partir disso, o saber biomédico se fortalece como a maneira que historicamente buscamos uma explicação para quando algo de diferente se passa. Nesse momento, esse saber interfere nos corpos de crianças e adolescentes com a intenção de tra- duzir o que está causando as circunstâncias em questão. O momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do corpo humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é mais útil, e inversamente. (FOUCAULT, 1977, p. 127). É no anseio por essa tradução que, por vezes, um diagnóstico é uti- lizado. Além disso, a dificuldade de enxergar o sujeito como um todo negli-