Saúde e cuidado no serviço escola: adolescência presente!
Celma Matos Campos, Joice Costa da Silva Gomes e Lígia Hecker Ferreira 65 Revisão bibliográfica e discussão Aprendizagem e socialização É preciso lembrar que a escola, hoje, é o lugar social por excelência. Com as famílias menores e vivendo longe de seus parentes, com os espaços públicos – incluindo aqui a vizinhança – cada dia mais perigosos, o convívio com os colegas se tornou central. Infeliz e involuntariamente, a escola acabou sendo também um clube, no sen- tido de um lugar privilegiado e, por vezes, único de circulação social, o que acaba se sobrepondo às suas funções pedagógicas e dificulta seu papel na transmissão do conhecimento. Ou seja, pela atrofia dos outros espaços, um fracasso social na escola é uma derrota total na socialização. (CORSO,; CORSO, 2018, p. 55). Tanto no aspecto social quanto no dos processos de ensino- aprendizagem, a escola ocupa atualmente um papel abrangente. Marília, durante sua avaliação, relatou algumas situações de bullying , em que colegas debochavam dela por não ter um bom desempenho nas atividades que envolviam leitura e escrita. Além disso, trouxe situações em que chorava na escola por estar preocupada com a saúde de sua mãe, e que isso tambémocasionava provocações feitas pelos colegas. Notamos, relacionando a isso, uma ânsia por aprovação para com as avaliadoras e uma necessidade de sempre explicar suas respostas, evidenciando insegurança. Percebe-se o quão interligados estão os aspectos psíquicos e os aspectos que correspondem à aprendizagem. Durante o processo de avaliação psicológica, nos perguntamos quantas crianças e adolescentes se encontram em situações semelhantes à de Marília. O caso atendido e retomado neste relato é um meio de representar diversos outros sujeitos com que nos deparamos na rede pública atualmente. Kufpfer e Petri (2000) falam sobre como a escola se construiu como um ambiente segregador, onde o objetivo não é pensar a pluralidade de subjetividades, mas ensinar apenas quem consegue aprender o que é ofertado. A criação da escola contorna então um Real e passa a dizê-lo. E, ao contornar o Real, pode passar a dizer o que ela não é, ou quem não são suas crianças. A escola encontra seus pontos de referência identitários nesse contorno, e o expelido pela instalação do contorno ajuda a defini-la. Assim, a reabsorção do que ela não é ameaça a sua consolidação como instituição. Reabsorver o que ela mesma criou como não-escolar é, inicialmente para ela, um contra-senso! Então, se a escola foi feita para segregar, que sentido tem trazer para dentro de seus muros essas crianças? Esse poderia ser um subtexto da professora que pergunta pela razão de as crianças excluídas voltarem para a escola. ‘Se não podem aprender, por que as colocam em minha classe?’ (KUPFER; PETRI, 2000, p. 112)
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