Saúde e cuidado no serviço escola: adolescência presente!
64 Uma clínica grupal com adolescentes em padecimento dificuldade de aprendizado, não sugeria origem neurobiológica para tais difi- culdades, além de descartar o diagnóstico de dislexia. A partir disso, o grupo entendeu haver uma necessidade de que Marília primeiro passasse por um processo de psicoterapia e, após um período recomendado, refizesse a avaliação, para que assim pudesse se chegar a um diagnóstico mais assertivo em relação à sua dificuldade de aprendizagem. O fracasso escolar pode ocorrer devido a situações e/ou condições externas ao indivíduo e que indiretamente o afetam e/ou por con- dições internas ao mesmo. Dentre as situações externas mais arrola- das, podemos citar as causas de ordem socioeconômica das famílias dos estudantes, acarretando a necessidade do trabalho infantil, e as causas de ordem sócio-institucional, que vão desde as condições da estrutura física da escola quanto às questões administrativas, salariais, pedagógicas passando também pela formação do professor . Dentre os fatores de ordem interna ao indivíduo, destacam-se os relaciona- dos ao desenvolvimento cognitivo e os de ordem afetivoemocionais, motivacionais e de relacionamento. (CARNEIRO; MARTINELLI; SISTO; 2003, p. 427-428). Embora o grupo tenha visto esse não-diagnóstico como uma pos- sibilidade de, através do auxílio psicoterapêutico, Marília conseguir lidar com questões importantes da sua construção psicológica e, a partir disso, melhorar seu processo de ensino-aprendizagem, para a adolescente, a de- volução não chegou tão bem, assim como para a sua irmã. Ambas ficaram surpresas, pois acreditavam que a adolescente apresentava o diagnóstico de dislexia desde aproximadamente os oito anos de idade. Por esta razão, o não diagnóstico de dislexia representava inicialmente para elas não uma possibilidade, mas uma perda. Mesmo com a explicação de que poderiam ser outros estressores que estavam afetando a sua aprendizagem e com o encaminhamento feito, o fator psicológico parecia não ser suficiente para justificar a trajetória de Marília até então. Assim, a entrevista devolutiva foi permeada por uma negação diante do que foi exposto. Além disso, a presença da irmã, que por diversas ve- zes questionou a ausência do diagnóstico, afetou significativamente Marília. Nesse encontro, a irmã funcionou como uma porta voz da pressão exercida pela sociedade, invalidando os processos de subjetivação e o sofrimento vi- venciado pela adolescente, justificando que passou situações mais difíceis e que não afetaram sua aprendizagem.
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