Saúde e cuidado no serviço escola: adolescência presente!

Amanda Pedralli Hamad e Stephani Claudino 45 te, problematize, repita, realce, desdobre, desterritorialize, sugerirá Deleuze. Seja, esteja, rabique, e espere, silenciosamente, a emergên- cia de uma forma nova elevando-se do amorfo ( formless ), a espontâ- nea e essencial verdade do self , acrescentará Winnicott. (GRANÃ, 2017, p. 163, grifo do autor). Não nos surpreende que os adolescentes em situação de acolhimento com os quais nos encontramos no contexto do serviço-escola não tiveram a possibilidade de construção das suas próprias narrativas ainda quando crian- ças. Conforme Amaral (2011), após acolhido, o sujeito passa a ser dependente da instância jurídica mesmo para as atividades fora das instituições de acolhi- mento – inclusive seu desligamento das mesmas, cerceando assim as possibi- lidades do ensaio de suas autonomias em favor da massificação das caracte- rísticas individuais. Não é diferente a forma como acontece a inserção desses adolescentes no Programa de Atenção Ampliada à Saúde (PAAS), realizada através de encaminhamentos do juizado para acompanhamento psicológico. Contudo, como refere Letícia Gomes (informação verbal) 3 , as narrativas de vida dessas crianças e adolescentes não constam nos autos do processo. Além disso, o olhar genealógico apresentado por Rocha e Garcia (2008) refere a adolescência como uma construção recente que se relaciona com ideário social individual e cientificista da cultura ocidental, enquanto refletem o caráter idealizado da adolescência no contemporâneo. Segundo as autoras, a adolescência está cada vez mais se distanciando das limitações de idade e tornando-se estilizada e idealizada através da lógica do consumo e pelo culto à liberdade. Essa subjetivação capitalística tem em seu cerne um modo culpabilizante e individualista que põe o sujeito como o único res- ponsável por aquilo que é julgado socialmente como fracasso ou sucesso. Desse modo, fomenta uma “[...] rentável indústria de serviços especializados, coerente com o mercado do capital que tudo transforma em mercadoria”. (COIMBRA; BOCCO; NASCIMENTO, 2005, p. 7). Porém, na contramão dessa estilização da adolescência, a juventude pobre e majoritariamente negra torna-se estigmatizada pelo discurso que escreve seus corpos em um imaginá- rio ligado a delinquência e violência (ROSA; VICENTIN, 2010). Conforme Coimbra e Nascimento (2005), diferentes dispositivos sociais tem produzido subjetividades atreladas a padrões ditos aceitáveis e que legitimam a existência dos sujeitos através do emprego fixo ou da família organizada . Aqueles que esca- pam desses territórios modelares são minimamente vistos com desconfiança, senão evitados, enclausurados ou mesmo exterminados. 3 Fala fornecida por Letícia Gomes na sua presença à convite de acadêmicas do curso de Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) para o IV Colóquio Psicanálise e Sociedade – Narrativas Urbanas: São Leopoldo, 20 de ago. de 2019.

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