Saúde e cuidado no serviço escola: adolescência presente!
44 A experiência de psicoterapia com adolescente em situação de acolhimento institucional Essa escrita consiste no relato de experiência enquanto estagiárias de psicologia no serviço-escola da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), com diretrizes que permitem o olhar de cuidado em clínica ampliada, possibilitando também, uma atuação ativa na construção da rede de cuidado dos sujeitos que se encontram em atendimento psicoterapêutico. Essa reflexão é resultado da composição entre estagiárias que se aventuram entre os campos da análise institucional e psicanálise na trajetória do estágio profissional em psicologia. Considerando a abordagem cartográfica deleuzia- na “[...] de inspiração foucaultiana, que possui espontânea afinidade com as atitudes clínicas de Winnicott e Lacan” (GRAÑA, 2017, p. 162) possibilita, assim, uma escrita em conjunto. Trata, por fim, dos desafios ético-políticos correlatos do encontro em psicoterapia com adolescentes em situação de acolhimento institucional bem como das parcerias possíveis e dos encontros em espaço de ensino-aprendizagem. Diante dessa experiência é possível perceber que o constituir-se psi- coterapeuta é, de fato, um exercício de muitos desafios. E estabelecer um espaço para atendimento que faça sentido à um adolescente é um deles. Em meio a isso e tomadas pela lógica de encaminhamentos e continuidade de acompanhamentos, levantamos como questão a obrigatoriedade da presença em serviços diversos de cuidado que os adolescentes em situação de acolhi- mento institucional vivenciam. O acolhimento ou abrigamento institucional é uma medida de pro- teção preconizada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069 (BRASIL, 1990) que configura uma última medida protetiva frente a impos- sibilidade de retomar vínculos familiares e comunitários de crianças e ado- lescentes e prevê o afastamento provisório dos sujeitos de seu convívio fa- miliar quando considerado que seus direitos foram violados em contextos de negligência, maus-tratos e abuso sexual. Contudo, para além da qualidade de proteção desses espaços, interessa-nos refletir que o caráter institucional e impessoal das chamadas casas de acolhimento promove a supressão das intimidades e individualidades daqueles sob sua proteção – visto que esses estabelecimentos são tutelados, por sua vez, pelo Estado e pela Justiça da Infância e Juventude. (AMARAL, 2011; FIGUEIREDO; ARAGÃO, 2013). Silva (apud AMARAL, 2011) permite pensar a dinâmica dessas instituições ao apontar que todas as dimensões da vida dos sujeitos acolhidos passam a ser mediadas pelas regras disciplinares e funcionais que permeiam esses espaços. Obviamente, enquanto inadequadamente proposta for a questão, impropriamente apresentada será a resposta. Se o analista se supõe o senhor de todas as revelações, o extrator arqueológico das verda- des, ele inevitavelmente as sentenciará. [...] não interprete; pergun-
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