Saúde e cuidado no serviço escola: adolescência presente!
40 “É como se todo mundo visse a gente horas e horas e não nos percebesse…” Tais aspectos parecem nos auxiliar a identificar elementos para ajudar a compreender a adolescência também implicada numa total reorganização do seu mundo social e, neste sentido, estando particularmente vulneráveis à solidão. (BASTOS; FIGUEIRA; COSTA, 2002). Ver e perceber: qual o papel da psicologia ao acompanhar as adolescências hoje? Traçamos uma indagação decorrente da discussão até aqui percorri- da: como pensar a adolescência depois de compreendermos seu caráter só- cio-histórico? O quão importante é, para nós, profissionais da psicologia, que tanto nos debruçamos nos signos que se constroem e passam a nos consti- tuir, pensar a adolescência, após entendê-la como categoria historicamente construída, a partir de uma realidade sociocultural ocidental, para uma orga- nização política e econômica vigente? Será possível trabalharmos com um ideal da adolescência, sem olhar- mos para a alteridade, a potência criadora e transgressiva, sem estarmos aten- tos ao discurso midiático que também compõe a narrativa atual da adolescên- cia? Sabe-se que pensar os processos de subjetivação na adolescência requer que compreendamos o contexto social em que estes/as jovens se inserem e, sabemos, a cultura vai apresentar os signos, os referenciais linguísticos, as for- mas de estar no mundo contemporâneo. Os processos de subjetivação pas- sam por agenciamentos complexos. (SALLES, 2005). O contexto subjetiva. Subjetiva quando apresenta quem pode e quem não pode acessar políticas pú- blicas socioassistenciais, quando impõe um padrão de excelência e exigência excessiva, quando demarca formas de viver o corpo e a sexualidade, quando impõe a uns futuro e a outros morte (real ou simbólica). Diante disso, a provocação que pretendemos com este texto é nos sensibilizarmos e, com isso, estarmos atentos às múltiplas formas de pensar e olhar para a adolescência, mas, mais do que isso, para os/as adolescentes. O convite aqui proposto, a partir da experiência do trabalho na clínica e nas escolas, é de nos colocarmos atentos às vivências do adolescer nas cidades, escolas, nas políticas públicas, nos becos e vielas e fazermos um exercício de transbordar o pensamento para fora unicamente da nossa vivência adolescen- te, pois, mesmo que fosse possível pensarmos um fenômeno tão complexo e multifacetado a partir de nós mesmos, Deleuze e Guattari (1995, v. 1, p. 2) já denunciavam: “[...] cada um de nós, já é vários”.
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