Saúde e cuidado no serviço escola: adolescência presente!

38 “É como se todo mundo visse a gente horas e horas e não nos percebesse…” faz exigências para jovens como se fossem, também, adultos. Falam sobre o desamparo, a solidão e o medo. Em nossos momentos de escuta, contaram sobre o sentimento recorrente de incapacidade e o desejo ainda maior de de- sistência. Reflete-se sobre a demanda por uma excelência intelectual formal, enquanto há um cerceamento da adolescência e seus processos afetivos. O sofrimento expresso por parte dos estudantes de modo a enunciar como sen- tem-se desmotivados e invisíveis, demonstrando uma angústia em função de uma série de percepções e sensações quanto ao silenciamento da instituição frente às situações por eles vivenciadas. As forças que percorrem a produção de sofrimento no corpo adolescente podem ser pensadas a partir de um mal- -estar. Birman (2015) ao pensar sobre o mal-estar contemporâneo, toma-o como um processo de mudanças de tempo e de espaço que repercutem no sujeito, um fenômeno em relação à cultura conforme transformações históri- cas, fundida em operadores políticos e sociais, assim, importantes mudanças nos modos de subjetivação que ocorrem. Neste sentido, é necessário nos perguntarmos qual o papel social da escola e qual o posicionamento que essa instituição tem tomado frente às problemáticas instaladas pelos jovens de hoje? Identifica-se que em nossa sociedade a família vem, gradativamente, perdendo a centralidade ou a ex- clusividade nos processos de socialização, dando espaço para que aconteça a ascendência para a escola como o ambiente de socialização mais constan- te e frequente de jovens. (ABRAMOVAY; CASTRO; WAISELFISZ, 2015). Sendo realidade que muitas vezes os adolescentes têm ficado mais tempo na convivência do ambiente escolar do que no familiar. Dessa forma, as relações estabelecidas na e com a escola tornam-se referências para esse público. Nessa perspectiva a escola pode ser compreendida como um espaço no qual diversas experiências, valores, crenças, costumes e técnicas são trans- mitidas, assimiladas e recriadas pelos atores que a compõem. Sendo assim, um ambiente que está, para além de uma transmissão de conteúdo curricular, apenas. (ABRAMOVAY, CASTRO, WAISELFISZ, 2015). É sobre isso que nos falam os adolescentes, um desejo de que a escola possa abrir as portas, abrir o corpo, às demandas contemporâneas. Falam sobre a dificuldade que têm em se encontrar fora da escola e de como consideram a mesma como um espaço potente e seguro para promover tais encontros. Ao nos depararmos com essa compreensão, entendemos que a escola tem um potencial social e cultural imensurável, um espaço para construção de projetos de vida para os adolescentes, tendo em conta também que os conhecimentos e as vivências permitidas se colocam como espaço de transformação social. Neste sentido, torna-se essencial que a escola possa promover o de- senvolvimento da autonomia, da capacidade crítica, da busca pela emancipa-

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