Saúde e cuidado no serviço escola: adolescência presente!
36 “É como se todo mundo visse a gente horas e horas e não nos percebesse…” e responsáveis e com os próprios adolescentes através de diálogos de modo a convidá-los a refletirem sobre os processos vivenciados, possíveis propo- sições para lidar com as dificuldades encontradas e assim potencializar as relações, produções e os modos de existir. Nos chamou a atenção, as questões levantadas pelos estudantes, que, mesmo em um primeiro momento de aproximação, contaram sobre o sen- timento de desamparo experimentado não só na escola, mas em todo o seu campo social. Os jovens narraram experimentar sensações de solidão, ansie- dade e de invisibilidade, sofrimentos referidos frente às exigências as quais ainda não se sentem preparados a dar conta, uma vez que as consideram precoces diante de um processo de amadurecimento que reconhecem es- tar em construção. Diante disso, entendemos não ser possível falar em ado- lescência sem compreendê-la também como uma categoria historicamente construída dentro de uma cultura ocidental e de uma organização política e social vigente. (GROSSMAN, 1998). A partir deste entendimento, faz-se necessário pensar nos processos de subjetivação implicados nessa constru- ção e das narrativas inscritas no modo contemporâneo de compreender o adolescer. Coutinho (2004) compreende a adolescência como um processo intenso colocado no corpo biológico, pressionado por expectativas demarca- das socialmente, enquanto há a realização de um luto sobre sua condição da infância, desencadeando uma experiência de desamparo frente a cultura que o submete a representações, assim suas pulsões buscam maneiras possíveis de expressar sua singularidade. Quando falamos em adolescência, entendemos que o mais pertinente seria dizer adolescências devido seu caráter múltiplo, não generalizável, que pede olhares cuidadosos e atentos à singularidade dessa experiência “[...] de des- ligamento da infância e preparação para a vida adulta”. (CORSO; CORSO, 2018, p. 9). Conforme Corso. e Corso (2018), essa forma de categorizar a juventude se iniciou por volta da Primeira Grande Guerra, e acabou virando uma fase da vida, inventada, que idealizamos com a certeza de que seria “[...] o tempo de ouro da existência”. Afinal “[...] viver combinando as possibili- dades de um corpo jovem, sexualmente amadurecido, com a continuação da despreocupação da infância parece um paraíso ao qual seus antepassados não tinham acesso.” (CORSO; CORSO, 2018, p. 9). Deste modo, tomamos a definição dos autores que afirmam ser “[...] a adolescência menos uma etapa cronológica da vida e mais como uma ope- ração psíquica no sentido de uma passagem ou travessia [...] uma operação na qual ‘enfeixamos as linhas de força’ que se movimentam para terminar de crescer e, ao final tornar-se adulto”. (CORSO; CORSO, 2018, p. 9). Os au- tores consideram, que esta operação só faz sentido no nosso tempo, criamos
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