Redes: construções coletivas com um serviço escola
A experiência de coordenação de um grupo de adolescentes 76 com a manifestação, por parte deles, do desejo de que, ao contrário, seus nomes fossem expostos. Entendemos essa sugestão como uma manifes- tação dos efeitos que o grupo gerou em todos, tanto em nós, terapeutas, de compartilhar e nos apropriar desta experiência através deste texto, quanto dos participantes do grupo, ao manifestarem o desejo de serem nomeados, saírem do anonimato nesta experiência que, mais do que fa- zer parte, eles se construíram e construíram conosco. A princípio, a escrita teria como base as produções realiza - das por nós, terapeutas, acerca do nosso processo de estágio, o que de fato ocorreu. Entretanto, constantemente, as nossas percepções acerca do Grupo de Adolescentes vão se atualizando à medida que nos propomos a pensá-las, de forma que se instalou o desafio de produzir uma escrita que fosse viva e capaz de melhor acompanhar esses processos. Portanto, daí parte a decisão de construir a escrita em aforismos. A inspiração por escrever neste formato partiu de um passeio na obra de Nietzsche que, ao final do prólogo de seu livro Para uma Genealogia da Moral, ressalta a escrita aforística como uma escrita inacabada, que exige um tipo de leitura especial, ruminativa (NIETZSCHE, 2007). Sendo assim, entendemos que esse formato de escrita compreenderia adequadamente os processos vividos no grupo, sobre os quais ainda continuamos a investir leituras e, portan- to, ruminar sobre. Antes de finalizar este texto, gostaríamos de expor que a possi - bilidade de nomeação dos jovens foi discutida entre nós quanto ao seu caráter expositivo, considerando que essa publicação integraria uma publicação de um Serviço-Escola de saúde, e que este Grupo envolve uma proposta clínica, psicoterápica. Entretanto, assim como se consti- tuiu o grupo, acreditamos que esse movimento vai no sentido de afir - mar a potência de vida naquilo que se produziu a partir dos encontros do que expor algum processo patológico ou algo do tipo, até porque não trabalhamos nessa lógica com os adolescentes. A concepção de clínica da qual partimos se alinha com o que Paulon (2004) pontua como uma clínica do desvio, de produção de diferença – Klinos/Klinamen – diferente de uma clínica que foca na doença e que se alinha com discursos homogeneizantes – Kliné/Kli - nikós. Um espaço que trabalhe no sentido de permitir a ampliação das possibilidades de existência onde até o território existencial do analista
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