Redes: construções coletivas com um serviço escola
Cássio Mattiello Alves, Jonas Fernando Müller Filho e Lígia Hecker Ferreira 73 Observa-se, portanto, que tanto coordenar quanto fazer parte de um grupo envolve uma dimensão experiencial. Benjamin (1987a; 1987b) parece estabelecer uma dupla relação com a experiência. Por um lado, há o empobrecimento dos espaços de compartilhamento de experiência e das narrativas com o excesso de informação, que explica e psicologiza tudo, sem dar espaço para a criação de um sentido próprio; por outro, há a barbárie que, a despeito da experiência colocada como imposição de um determinado saber, cria algo novo. A experiência de coordenar o grupo de adolescentes envolve estar, frequentemente, em meio a estes dois movimentos. A experiência, como pontua Larrosa (2002), envolve um dei- xar-se tocar, uma disponibilidade para afetar-se por aquilo que nos passa, nos acontece. Entendemos essa disponibilidade crucial no con- tato com o grupo. Somos afetados e afetamos nos encontros entre os corpos, afirmava Espinosa (DELEUZE, 2002, p. 128). O saber que se produz daí envolve uma dimensão existencial e singular que não se repete como em um experimento (LARROSA, 2002). O exercício que buscamos sustentar no grupo envolve a articulação desse saber cons- truído em um plano comum, um plano de imanência, que se constrói a partir da experiência. Buscamos, assim, deslocarmo-nos de uma po- sição prescritiva quanto às práticas de coordenação do grupo e afirmar a possibilidade de que os jovens ensaiem movimentos de autonomia e assumam a autoria de si nos seus processos de vida. V Em certo momento, quando sentimos o grupo aparentemente morno, propusemos que assistíssemos a um filme visando alavancar questões para o debate. Escolhemos, com o grupo, um filme sugerido por um dos terapeutas, Cássio – O Gênio Indomável. Notavelmen- te houve resistência do grupo nesse processo. Em um dos encontros agendados para que continuássemos vendo o filme, nenhum dos ado - lescentes compareceu. Levamos quase cinco encontros para ver um filme que, em tese, duraria dois encontros. Algumas semanas depois, combinamos que cada um levaria uma música de sua escolha para compartilhar com o grupo. Aparente- mente, isso fez mais sentido para todos, ressaltando ainda, que foi uma sugestão por parte de um dos jovens do grupo. Durante o encontro
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