Redes: construções coletivas com um serviço escola
A experiência de coordenação de um grupo de adolescentes 72 ... tato de saber quando e como se comunica alguma coisa ao analisando, quando se pode declarar que o material fornecido é suficiente para extrair dele certas conclusões; em que forma a comunicação deve ser, em cada caso apresentada; como se pode reagir a uma reação inesperada ou desconcertante do paciente; quando se deve calar e aguardar outras associações; e em que momento o silêncio é uma tortura inútil para o pa- ciente, etc. (FERENCZI, 1927/1987, p. 35). De certa forma, nossa vida é uma intervenção no encontro com o outro. “Talvez aí resida o que há de mais precioso no trabalho clínico: nunca sabemos o que irá acontecer, o que nos dirá neste dia o paciente, se ele virá ou não, quais serão as ressonâncias dos grupos” (SILVEIRA; FERREIRA, 2013, p. 11). Talvez essa seja uma das maiores aprendi - zagens que a posição de terapeuta nos dá: uma perspectiva de como é possível inventar novos caminhos sem destruir a vida que há. IV Quanto aos efeitos de se optar por essa forma de coordenação, obtivemos o retorno, por parte dos jovens, de que este era um gru- po diferenciado, nem parecendo que éramos psicólogos, dada a forma como as nossas relações se configuraram. Entendemos essa fala como uma pista da proximidade afetiva que foi possível alcançar com os ado- lescentes. Para tanto, foi fundamental mapear alguns dos nossos pon- tos de aproximação, bem como conceber os pontos de distanciamento como pontes através das quais seria possível aprendermos algo da exis- tência do outro mutuamente. Esse processo se dá em duas vias, todos os envolvidos saem transformados através do contato com a alteridade. Portanto, consideramos que um importante aspecto presente no grupo já reconhecido pela literatura, é a oportunidade de entrar em contato com outras histórias, ou com histórias parecidas vividas de ou- tros modos. No compartilhamento das vivências e dos sofrimentos de cada um, reside a experiência identificatória, promotora de importantes questionamentos, à medida que se percebe que algumas questões de difícil enfrentamento são comuns a todos. Por outro lado, os encontros com o outro também fazem aparecer as diferenças, o estranhamento. O grupo provoca um deslocamento de espaço das angústias vividas fundamentalmente como individuais, abrindo canais de contato com o aspecto coletivo que nos constitui (MELLO, p. 4).
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