Redes: construções coletivas com um serviço escola
Cássio Mattiello Alves, Jonas Fernando Müller Filho e Lígia Hecker Ferreira 71 algo em si a não ser signo. Sendo assim, o lugar do grupoterapeuta não é de coordenador, não é de ordenar um processo, não é o de desvelar uma verdade por trás do que se coloca no grupo, mas de pontuar algum sentido, não ignorando inúmeros outros possíveis. E eles não estão ocultos, estão ali o tempo todo em latência ou em virtualidade 9 . Por outro lado, não há a intenção de se manter uma relação vertical, ainda que estejamos numa posição diferente. Colocamo-nos como parte do grupo. Como alguém disposto a aprender junto, a se colocar verdadei- ramente, ainda que mantendo uma reserva necessária para que se possa intervir. Entendemos que é no encontro, no entre dos integrantes e seus terapeutas que se produz as experiências de grupalidade, seja nas identificações ou nas alteridades capazes de produzir efeitos de deslo - camentos nas subjetividades. Há um esforço que precisa ser feito para sustentar essa posição, ainda mais quando falamos de um grupo de adolescentes. Parece ser fácil cair no erro de pensar sabermos mais do que eles, de sermos mais maduros, termos as respostas adequadas para as questões que surgem, ver os sentidos que por vezes parecem distantes. Certa medida de des - centralização, na qual a coordenação se retira da postura interpretativa que traduz as verdades sobre os conteúdos do grupo, possibilita que se pontue as estranhezas, os sem-sentidos, a enunciação de paradoxos, as ambiguidades mais do que as oposições (FERNÁNDEZ, 2002, p. 198; RODULFO, 2012, p. 35). Buscando construir esta posição, colocamo-nos no grupo. Co- locar-se no é estar com, como nos ensina Ferenczi (1927/1987) é “ sentir com” através da faculdade do tato psicológico. 9 Segundo Pierre Levy, “A palavra virtual vem do latim medieval virtualis , deri- vado por sua vez de virtus , força, potência. O virtual tende a atualizar-se, sem ter passado no entanto à concretização efetiva ou formal. A árvore está vir - tualmente na semente. Em termos rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe ao real mas ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras de ser diferentes. Deleuze ainda faz uma diferença entre o possível e o virtual: no possível já está tudo constituído, se realizará sem que nada mude em sua determinação nem em sua natureza; é um real fantasmático, latente. O possível é exatamente como o real: só lhe falta a existência. A realização de um possível não é uma criação, pois a criação implica também na produção inovadora de uma ideia ou de uma forma. O virtual é o complexo problemático, o nó de tendências ou forças que acompanham uma situação, um acontecimento, um processo de resolução: a atualização (p. 15-16, O que é o virtual?).
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