Redes: construções coletivas com um serviço escola

Escuta de mulheres no Fórum: desafios e potencialidades 44 aliviar a ansiedade. No entanto, entre uma informação “prática” e outra – por exemplo, de como chegaram até ali, horários das audiências de cada uma, vivência com boletins de ocorrência que já fizeram – era inevitável o aparecimento do grande sofrimento, por trás de suas histórias. Assim, as informações burocráticas foram cedendo e, cada vez mais, os sentimentos das mulheres ganhavam voz e vez e, à medida que eram colocados em palavras, o vínculo e a rede entre elas se fortalecia. O interessante é que a prática se dá em um encontro, ou seja, naquela manhã ou tarde em que estão no Fórum aguardando a sua audiência; no entanto, o que se estabelece nele vai além, abrindo uma gama de possibi- lidades. Em um dos encontros, por exemplo, as mulheres se organizaram em um grupo de whatsapp para seguirem conversando fora dali. Assim, em nossas supervisões, fomos compreendendo que, muito mais do que um espaço informativo, esse era um espaço de es- cuta, de acolhimento. Assim, esse espaço passou a englobar questões importantes nas nossas discussões de supervisão, impulsionadas por nossas observações e reflexões sobre a atividade. Uma delas diz sobre o fato das mulheres poderem se ver e se reconhecer umas nas outras e perceber como algo, a partir dali, pode ser acionado. Maynart et al. (2014), quando se referem à escuta qualificada e ao desejo de escutar, dizem que esta é uma ferramenta terapêutica, que permite uma troca subjetiva que pode modificar a experiência do sujeito, sem a intervenção da fala. A relação manifesta-se como campo transferencial, na qual o terapeuta ocupa o lugar de suposto-saber, adotando, assim, uma estratégia onde o sujeito tenha sua palavra, seja escutado na sua singularidade, e possa também escutar e apropriar-se desse discurso (p. 303). Esta escuta valoriza e permite a expressão do sofrimento, dú - vidas e afetos, produzindo alívio e sensação de resolutividade. Possui papel fundamental no trabalho de acolher (MAYNART et al., 2014). Outro aspecto diz sobre a possibilidade de ser realizada uma nova escuta com essas mulheres, na medida em que visualizamos si - tuações de maior risco. O objetivo seria chamá-las para um encontro posterior, para serem atendidas individualmente e escutarmos se elas buscaram ou não os encaminhamentos realizados no dia da audiência.

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