Redes: construções coletivas com um serviço escola
Andorinhas sozinhas não fazem verão: a experiência interdisciplinar e o cuidado integral no território 14 de, mas, sobretudo, a relevância de práticas que permitam a atuação das profissionais nos territórios, incluindo os sujeitos atendidos na elaboração e durante todo o processo do acompanhamento. Palavras-chave: atenção básica; ensino em serviço; integralidade. Rubén Omar Sosa escutou a lição de Maximiliana num cur- so de terapia intensiva, em Buenos Aires. Foi a coisa mais importante que aprendeu em seus anos de estudante. Um professor contou o caso. Dona Maximiliana, muito alque- brada pelos anos de labuta de uma longa vida sem domin- gos, estava há vários dias internada no hospital, e todo dia pedia a mesma coisa: - Por favor, doutor, o senhor podia medir minha pulsação? Uma suave pressão dos dedos no pulso, e ele dizia: - Muito bem. Setenta e oito. Perfeito. - Está bem, doutor, muito obrigada! Agora, por favor, meça minha pulsação? E ele tornava a medir, e tornava a explicar que estava tudo bem, que melhor, impossível. Dia após dia, a cena se repetia. Toda vez que ele passava pela cama de Ma - ximiliana, aquela voz, aquele sussurro, o chamava, oferecia esse braço, esse raminho, uma vez, e outra vez, e outra. Ele obedecia, porque um bom médico deve ser paciente com seus pacientes, mas pensava: “Essa velha é uma chata”. E pensava: “Deve estar faltando algum parafuso nessa cacho- la”. Levou anos para entender que ela estava pedindo que alguém a tocasse (GALEANO, 2015). ATENÇÃO BÁSICA: AONDE FOMOS AMARRAR NOSSOS BODES? 4 Com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, o Brasil se tornava um país democrático, lutando por cidadania e com força para criticar o modelo de saúde que vinha sendo executado. Através do artigo 196 da constituição, surge uma nova organização de saúde, nominada por Sistema Único de Saúde – SUS, que serviria para nortear os cuidados públicos e privados com a saúde da população brasileira, tornando-se, a partir de então, um direito e dever do Estado garantir acesso igualitário para todos. Para fugir de um modelo de saúde bio- médico, este sistema procura tratar o usuário como um sujeito integral, 4 Referência à foto registrada durante visita domiciliar na casa da família acompa- nhada durante o semestre deste trabalho na Unidade Padre Orestes (em anexo).
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