Redes: força de produção em um serviço escola

Izana Soares Rodrigues, Luísa Moutinho Cavalcante e Michele Scheffel Schneider 93 múltiplas identidades, mas isto pode gerar certa inquietude e desacordo dian- te do social, uma vez que os papeis precisam estar bem definidos frente às instituições. As identidades são as significações dadas pelos sujeitos e cons- truídas pelos indivíduos (CASTELLS, 1999b). Assim, pensando a partir de Castells, havia a necessidade de defini- ções de papéis dentro da Oficina. Por um lado entendíamos a necessidade desta especificidade mas, por outro, discutíamos que ela não poderia impedir a perspectiva e o olhar interdisciplinar, sendo este um dos eixos de trabalho no Projeto de Atenção Ampliada à Saúde (PAAS). Refletindo, então, sobre estes papéis pensamos: mas afinal qual lugar estávamos ocupando? Não era de professoras, mas também não era de psicoterapeutas, uma vez que a Ofici- na não se configurava como um grupo psicoterapêutico. Seríamos nós, então, oficineiras? Nos identificamos como psicólogas em formação, desenvolven- do uma escuta e um olhar que estimulava a transformação e, portanto, possi- bilitava efeitos psicoterapêuticos. Passamos por um processo de construir nosso papel dentro deste espaço, buscando este vir a ser psicólogas. Neste sentido, buscamos em Cam- buí, Neme e Abrão (2016) parte do embasamento desta ação. Os autores referem que Winnicott desenvolveu como os sujeitos estão dispostos de ma- neira inata ao seu desenvolvimento de existência. Sendo que “o vir a ser” se situa a partir das experiências iniciais, depende de uma não-existência e necessita de um ambiente favorável para que ocorra este processo, no qual a experiência do self é fragmentada e ao mesmo tempo reunida. Nosso processo de vir a ser psicólogas parte da disposição em cons- truir esse lugar, diferente das nossas experiências iniciais, porém não desco- nectado destas vivências. O conhecimento que temos como pedagogas não foi “deixado de lado”, ele veio compor nesta nova ação. Então nós, estagiárias de Psicologia-oficineiras-professoras iniciamos na ação e fomos nos experimentando. Em alguns momentos, em especial na preparação dos encontros, a professoralidade predominava, uma vez que ficávamos focadas no planejamento, no conteúdo, na tarefa a ser cumprida. Por exemplo, num dos encontros pensamos em brincar com massa de mode- lar caseira e identificamos que, na nossa imaginação, as crianças iriam levar as suas produções de massinha para casa, como que “cumprindo uma tarefa”. Ainda, constatamos que quando o planejamento “não dava certo”, as frus- trações e novamente as reflexões sobre qual o nosso papel naquele espaço retornavam e, então, tais questões puderam ser trabalhadas em outro espaço: a supervisão.

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