Redes: força de produção em um serviço escola

54 Os desafios das demandas para atendimento psicológico com jovens institucionalizados mos que Júnior não apresentava demanda para atendimento psicológico, uma vez que, apesar dele ter uma história de vida difícil – o que poderia lhe causar sofrimento – o mesmo não manifestava desejo de trabalhar as suas confliti- vas, pois, para ele, sua vida estava bem. O que fazer diante deste cenário? O juiz entende necessário o atendimento, assim como os responsáveis do jovem na rede, porém, não é o que entendemos com a escuta psicológica, uma vez que lhe falta o desejo para tal. Assim, o PTS nos parece uma boa alternativa, pois possibilita uma discussão em rede sobre o tratamento. No caso exemplificado, apesar de não existir demanda do jovem para um tratamento psicológico individual, alguns aspectos puderam ser pinçados e que podem fazer sentido e serem trabalha- dos no atendimento, de maneira focal e por um período determinado de tem- po. No exemplo, avaliamos que o adolescente tem a intenção de ingressar no exército ou na aeronáutica, porém não parece saber quais os encaminhamen- tos para efetivar estas possibilidades, ou mesmo as dificuldades implicadas nestas escolhas. Ainda, identificamos que logo mais este jovem completará 18 anos e será indicada a sua saída da casa de acolhimento. No entanto, a partir da avaliação observamos que esta, apesar de ser uma necessidade real, não parece ser uma questão a ser considerada por este jovem. Ele até coloca que pretende morar com seu irmão mais velho, porém, nada tem combinado. Podemos, de certa forma, estar sendo utópicos em acreditar que estes aspec- tos poderão ser trabalhados “em rede”, no entanto, entendemos que vale a tentativa. O nosso papel seria o de pensar, juntamente com os adolescentes, formas concretas de colocar em prática as suas vontades, levantando pos- sibilidades, traçando metas e, também, mobilizando a rede. O cuidado com estes jovens não pode ficar somente com um serviço, mas sim com a força e a integração dos diversos locais que os atendem. É isso que torna o trabalho potente e, quem sabe, possível. Boccardo et al (apud SILVA et al, 2013) afir- mam, como eixos norteadores do PTS “a centralidade na pessoa, a parceria entre equipe e usuários, a articulação dos recursos do território nas ações executadas, a ênfase no contexto da pessoa, a construção compartilhada e a definição de metas com duração previamente acordada” (p. 199). Dessa forma, nossas reflexões nos levam a pensar que a rede precisa se articular de forma mais efetiva, para que os casos não sejam apenas depo- sitados em algum serviço para satisfazerem as demandas solicitadas. Acre- ditamos que quando o Poder Judiciário demanda a psicoterapia individual, talvez nem saiba quais as outras alternativas de atendimento possíveis. Neste sentido, a comunicação se torna fundamental. Reunir os profissionais que

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