Redes: força de produção em um serviço escola
Camila Cabral Ritter, Nathália Schaab Silveira, Michele Scheffel Schneider e Rosana Cecchini de Castro 53 DIÁLOGO COM A REDE: POSSIBILIDADES E DESAFIOS A relação da infância e da adolescência com a sociedade é desigual: não há a existência de uma infância e de uma juventude para todos (ALBER- TO et al, 2008, p. 561). Entende-se que, apesar do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) prever uma política de atendimento, conforme consta no artigo 87, em que dispõe de políticas sociais básicas, bem como de outras políticas, programas e serviços de assistência social, prevenção, atendi- mento médico e psicossocial (em casos de negligência, maus-tratos, explora- ção, abuso, crueldade e opressão), estas nem sempre são cumpridas ou, então, falhas na comunicação ocorrem prejudicando as articulações necessárias para um favorável atendimento. A nossa experiência tem revelado o quanto os jo- vens percorrem os diversos serviços da rede e nem sempre conseguem esta- belecer vínculos sólidos com eles, por não se identificarem com as propostas de trabalho ou, talvez, por não encontrarem sentido nas práticas oferecidas. Moreira, Carellos, Passos e Bedran (2011, p. 13) entendem que: A proposta de uma rede de assistência à criança e ao adolescente, incorre em equívocos frequentes de um funcionamento circular vi- cioso, o qual pode dar lugar a ações e decisões desconectadas das necessidades da criança, do adolescente e da família, já que a frag- mentação ainda impera na convivência no contexto de acolhimento. Frente a estas constatações, retomamos nossa questão inicial: qual o melhor encaminhamento para os adolescentes institucionalizados? Obvia- mente não temos uma única resposta, sendo que se entende que o PAAS, como um dos atores desta rede, também pode repetir e contribuir com enca- minhamentos sem sentido para este público. Isso foi avaliado em função dos inúmeros jovens que não aderiram a psicoterapia individual, indicada pelo Poder Judiciário e corroborada pelo PAAS, que temos acompanhado nos últi- mos anos. Assim, nasce a motivação para esta escrita, cuja tentativa é proble- matizar novas possibilidades de atendimento, quem sabe mais coerentes com as necessidades e possibilidades destes jovens institucionalizados. Diante disso, o Projeto Terapêutico Singular (PTS) tem sido pensado como uma alternativa de atendimento. Para compartilhar nosso raciocínio, exemplificamos com um caso atendido em 2017/01, no Projeto Psicologia e Justiça (Ação: Perícia). Júnior 6 , um adolescente de 16 anos, institucionalizado há 7 anos, foi encaminhado pelo Juizado da Infância e Juventude para aten- dimento psicológico individual. Ao longo do período de avaliação, identifica- 6 Nome fictício.
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