Redes: força de produção em um serviço escola

52 Os desafios das demandas para atendimento psicológico com jovens institucionalizados atuações, segundo Castro e Timmen (2009, p. 183), “podem variar nas suas formas, indo de expressões mais brandas até as mais excessivas, que expõem a riscos”. Entre os adolescentes institucionalizados que atendemos, podemos notar estas atuações sob a forma de delitos, transgressão dos limites e/ou problemas com drogas, o que interfere no tratamento psicológico. Nesse sen- tido, Albornoz (2009) esclarece que esses indivíduos têm registrado em suas memórias as marcas das privações ocorridas na infância, dessa forma cons- truirão sua subjetividade e poderão determinar as suas formas de conduta no futuro. Assim, toda vez que o indivíduo tiver que agir frente a algo ou alguém, despertará “a memória das cicatrizes de seu passado” (Albornoz, 2009, p. 275). Entendendo tais considerações, percebemos o quanto é importante ter acesso a essas memórias, para que o paciente possa reconstruir sua história e identificar que há outra realidade possível. Outro aspecto a ser considerado no atendimento aos adolescentes institucionalizados é o estabelecimento do vínculo. Em sua história de vida frequentemente os mesmos vivenciaram muitas perdas, o que repercute na forma de constituírem suas relações pessoais e seus vínculos. Estes adoles- centes, frente a uma situação de maior proximidade interpessoal, podem te- mer o risco de serem novamente abandonados, o que pode produzir certo isolamento ou viscosidade. Assim, o profissional que trabalha com esses ado- lescentes é desafiado constantemente por este tipo de relação, a qual se es- tabelece no processo psicoterapêutico. (SANCHES; PARENTE; MORAES, 2005). No entanto, a partir desse trabalho, é possível que os jovens passem a elaborar suas histórias e explicitar suas dores e incertezas (ARPINI, 2003). As crianças e adolescentes acolhidos, segundo Marmelstejn (2006, p. 132), “parecem estar sempre na corda bamba, entre encontrar um caminho para se estabelecer no mundo de forma saudável e construtiva, ou se desor- ganizar e se perder na vida”. Diante dessas constatações entende-se que o en- caminhamento judicial tem a intenção de contribuir com a constituição destes jovens. No entanto, temos nos questionado na forma como isso ocorre, con- siderando que o atendimento psicoterápico individual (indicação da maioria das solicitações judiciais) não é a única alternativa de tratamento e, conforme a experiência tem nos mostrado, nem sempre é a mais adequada. Nesse sen- tido, consideramos importante que os encaminhamentos sejam construídos de forma a contemplar as reais necessidades e desejos destes jovens, uma vez que muitos não encontram sentido em medidas que simplesmente visam sua “correção”. Constatamos que esta forma de encaminhamento judicial tem sido entendida pelos adolescentes como uma obrigatoriedade, que nem sempre es- tão dispostos a cumprir. Assim, outras maneiras de atendimento, que envolva a articulação dos serviços por onde estes jovens circulam, devem ser pensadas.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz