Redes: força de produção em um serviço escola

Camila Cabral Ritter, Nathália Schaab Silveira, Michele Scheffel Schneider e Rosana Cecchini de Castro 51 noção de tato. Segundo ele, Ferenczi refere tato à capacidade de empatia do terapeuta. O interessante nas formulações de Ferenczi se dá na “compreen- são do campo transferencial como um plano de compartilhamento afetivo que, por meio do encontro lúdico, favorece a produção de sentidos para as experiências de cada um dos parceiros da análise” (KUPERMANN, 2008, p. 93). Assim, compreendemos a presença do terapeuta como uma presença sensível, a qual se coloca disponível para sentir com o paciente e poder, no campo transferencial que se estabelece, partilhar dos afetos que se produzem no encontro com o paciente. Destacamos o significado da psicoterapia na vida de uma pessoa, em especial nestas situações, porém não podemos ser mais um local a ignorar o desejo destes adolescentes institucionalizados. Diante disso, torna-se impor- tante identificar o que eles realmente querem para suas vidas e, a partir daí, pensar qual a melhor intervenção. Conforme Sierra (2017), os adolescentes, ao longo da história, contaram com o sustento dos adultos e das instituições. Contudo, diante da crise social e econômica global, o Estado deixou de inves- tir nas instituições que tentam prestar certo cuidado aos adolescentes 5 . Dessa forma, percebe-se que, na transição adolescente, não existem adultos que acompanhem/cuidem desses jovens. Com frequência, essa transição acon- tece solitária, em pares, sem o sustento e a contenção necessárias. (WINNI- COTT, 1964 apud SIERRA, 2017). Torna-se fundamental a criação de dispo- sitivos, principalmente na rede de saúde, que abarquem essas subjetividades. O PROCESSO PSICOTERÁPICO COM ADOLESCENTES INSTI- TUCIONALIZADOS A psicoterapia, na maioria das vezes, segundo Lhullier (1993), é indi- cada a partir de um processo psicodiagnóstico. No entanto, nem sempre os adolescentes desejam o atendimento, em função da própria fase que está sen- do vivida, com descobertas pessoais, oposições que podem refletir na acei- tação ou não do tratamento. Graña (1994, p. 7) esclarece que “o adolescente é tanto uma realidade como uma projeção”. Além disso, o ambiente, nesta fase, é de extrema importância, uma vez que muitas dificuldades derivam de condições ambientais adversas (Winnicott, 1964/2011), fato este que se evi- dencia nos adolescentes institucionalizados, pois suas vidas em geral foram marcadas por negligência e diversas formas de violência. Basicamente, a adolescência se caracteriza pelo agir. A forma que os adolescentes encontram para expressar esta ação é através da atuação. As 5 O estudo da referida autora foi realizado na Argentina.

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