Redes: força de produção em um serviço escola
Camila Cabral Ritter, Nathália Schaab Silveira, Michele Scheffel Schneider e Rosana Cecchini de Castro 49 passado, o qual, em muitas situações, envolveu a negligência, o abandono, o abuso físico, psicológico e sexual, deixando marcas graves na estruturação de seu psiquismo (ALBORNOZ, 2009). Ao discorrer sobre a escuta do profis- sional psicólogo, Miranda Júnior (1998, p. 31-32) declara que: (...) se esta escuta não se mantiver crítica, corre-se o risco de cair na psicologização de todo ato considerado socialmente “desviante”, retornando de forma bruta aos procedimentos baseados na curva normal, o que se conjuga à busca de formas cada vez mais sofistica- das de adaptar as pessoas. Ora, muitas vezes o desviante é portador da mensagem de que algo não vai bem no social, de que algo precisa mudar. O sistema social não tem ouvidos para isto, é narcísico de- mais. Alguns profissionais, entre eles o psicólogo, tem hoje a árdua missão de fazer ouvir o que querem calar. Para os jovens que chegam até o PAAS e para tantos outros, a vida se mostrou dura desde muito cedo, impondo a eles o imperativo de crescer ou, então, serem engolidos pelo mundo. Oliveira (2001) aponta para a precoci- dade e para a intensidade da “crise normal da adolescência” vivida por esses sujeitos, o que os diferencia dos demais adolescentes. São jovens que muitas vezes cresceram na rua, como adolescentes sem lugar (OLIVEIRA, 2001, p. 33), que precisaram impor sua visibilidade ao mundo através da violência. Os adolescentes da periferia, os quais são excluídos da “estética juvenil globali- zada” (p. 56), encontram no delito o reconhecimento que tanto desejam. Os tantos adolescentes que habitam este Brasil desigual, que lhes nega educação, amparo e direitos básicos, lançam mão da criminalidade para alcançar a ima- gem do jovem bem-sucedido e, então, sair do lugar de não- reconhecimento em que são colocados. Essas constatações foram nos levando a refletir sobre a importância de um processo avaliativo de qualidade, no qual o adolescente possa ser es- cutado em seu desejo, e também na necessidade de pensarmos intervenções que deem conta das suas demandas. Entende-se que estes adolescentes têm seus desejos por vezes ignorados, uma vez que chegam até nós por intimação do juiz para um atendimento que, para eles, parece não fazer sentido e, para nós, compreendemos que a psicoterapia, nem sempre é a intervenção mais indicada. Conforme sugere a autora Arpini (2003), é preciso um novo olhar sobre esta realidade para permitir que a criança ou adolescente tenha a opor- tunidade de ser visto de outra forma, e que possa realizar construções a partir de seus próprios desejos e possibilidades. Nesse sentido, no grupo de supervisão, avaliamos o Projeto Terapêu- tico Singular (PTS) como uma possibilidade de intervenção e cuidado huma-
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