Redes: força de produção em um serviço escola
Nedio Seminotti 103 com as relações sociométricas, constituídas por escolhas espontâneas. Lewin (1948) afirma que o motivo do comportamento individual no grupo vem do próprio campo grupal e não de sua história pessoal, como querem os grupa- listas de orientação psicanalítica. E para conceber as relações, Moreno (1959) se apoia na ideia da matriz sociométrica que se revela na relação entre a mãe e a criança, já no útero, e depois é desenhada pelas relações sociais sociomé- tricas, feitas pelas escolhas individuais. Segundo se compreende, a metáfora de rede visou traduzir um mun- do que passou a ser reconhecido como complexo. A estrutura supunha algo simples, natural e subjacente ao mundo, determinando os lugares e funções que deveriam ser ocupados pelas pessoas na organização social, ao explicar os arranjos aparentes da sociedade de maneira simples. Portanto, a estrutura supunha um mundo preconcebido (às vezes atribuído ao criador), previsível e controlável: um arranjo estável e caracterizado por padrões preconcebidos (GUIDDENS, 2001). Do ponto de vista religioso, era ameaçador alguém ar- riscar-se a abandonar o lugar determinado pela estrutura. Quem nasceu para ser pedreiro, por exemplo, deveria resignar-se a este lugar da estrutura, exer- cendo uma função social (WEBER, 2006). As redes, de outro lado, expres- sam uma relação construída entre pessoas. Não representa apenas as relações com os de cima ou os de baixo, mas às múltiplas possibilidades de relações: verticais, horizontais, transversais, circulares e recursivas, com possibilidade de criar um círculo virtuoso. Ao não haver um determinismo estrutural que designa lugares, funções e tipos de relações na sociedade, abre-se a ocasião para a autonomia e corresponsabilidade dos sujeitos nas intersubjetividades, com possibilidade de que as relações possam ser generativas na busca de so- luções aos problemas da vida. Isto posto, considera-se, a seguir, as relações em rede a partir das concepções de organização ou sistemas complexos, segundo a compreen- são de organização social de Morin (2013b; 2008; 2003) e de sistema de sistemas, para conceber os pequenos grupos e os contextos em que eles se desenvolvem, conforme Seminotti (2016; 2013; 2009). Segundo este, a metáfora de rede traduz a mesma ideia de inter-relações entre sistemas dis- tintos e com os contextos. Os nodos/nós têm a mesma concepção de sis- tema e a ideia de rede é equivalente à de uma multiplicidade de sistemas em inter-relações entre si, compondo sistemas maiores, que estão em relação com contextos: os sistemas menores e os maiores estabelecem inter-rela- ções entre si e com os contextos dos quais fazem parte, criando uma rede de relações. É preciso considerar, ainda, que um sistema tem uma totalida- de constituída por partes: as partes como sistemas e o sistema de sistemas como uma totalidade. As inter-relações entre todo e partes e entre as partes
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