Redes: força de produção em um serviço escola

102 A vida humana organizada em redes e em estruturas hierárquicas: considerações sobre paradigmas que as sustentam Com o surgimento da Cibernética de primeira ordem, Norbert Wie- ner (1894-1964) dá um primeiro passo para romper com o princípio newto- niano da relação causal linear vigente até então, cujas leis afirmavam que o futuro dependia, estritamente, do passado. Nesta cibernética, diferentemente da linearidade, e de acordo com o princípio retroativo, a causa produz um efeito e o efeito age sobre a causa para novos efeitos. Assim, começaram a ser concebidos os processos autorreguladores através do feedback positivo ou negativo. Isso ocorre, por exemplo, nas máquinas que têm termostato e nos organismos vivos, por via da homeostase. Nas organizações sociais, determinados atos como a violência de grupos ou indivíduos podem receber reações mais violentas do Estado ou serem mitigados por resposta dele até que se esgote a violência. Esta Cibernética foi definida como arte de governar especialmente por meio do controle da informação (WIENER, 1950/1954). Com o advento da Cibernética de segunda ordem, ou Cibernética So- cial como a denominou Foerster (1996), é contemplado um mundo objetivo, mas também subjetivo e instável e não previsível, pois um acontecimento futuro pode ser apenas provável e não previsível. Neste caso, um dos fun- damentos é que o observador faz parte do sistema observado, devido a sua subjetividade. Segundo Maturana (2002), observar o sistema é apenas um modo de operar no sistema observado: observar é intervir. No paradigma da complexidade, em que se situam estas concepções, a ciência deixa de conce- ber o objeto de conhecimento absolutamente independente do observador e passa a constituir um emaranhamento com ele. Notamos que vai havendo uma virada na concepção de ciência. O saber previamente estruturado, que submete o objeto de estudo, cede lugar, também, à ideia de que ele é construído na relação entre o saber científico e o do campo de estudo. O conhecedor e seu saber deixam de ter uma he- gemonia sobre o campo pesquisado, posto que a realidade não pode mais ser apenas considerada como absoluta, mas também relativa e contextual. Com isso, a produção de conhecimento leva em conta, igualmente, o ponto de vista do conhecedor, os fenômenos que emergem da relação e as inter- subjetividades produzidas no campo de pesquisa: inclusive as engendradas entre os pesquisadores e os sujeitos da pesquisa, e o conhecimento daí decorrente. Segundo Molina (2001), a metáfora da rede para traduzir as relações contemporâneas surgiu na primeira metade do século XX, em substituição à de estrutura. O pensamento gestaltista Lewin (1948), e o socionômico More- no (1959), contribuíram ineditamente para isso. O primeiro, com a teoria de campo, propôs que se considerasse o todo – gestalt – do campo e o segundo,

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