Projeto de Atenção Ampliada à Saúde: 20 anos de desafios e possibilidades
PAAS: entre práticas renovadas 85 ou receita que seja universal, prescritivo-normativa para a conquista da saúde. Na realidade, o que está em jogo, para Nietzsche (2009), é a ele- vação da potência que é própria a cada corpo. Acreditamos que tenha sido isso que o grupo conquistou, até o momento de nossa saída, nessa viagem: mais independência, mais potência de vida, mais oportunida- des de o trem continuar trilhando novos caminhos. E o texto de Silvana Duboc retrata isso novamente: “Se a sua viagem não está acontecendo exata- mente como você esperava, dê a ela uma nova direção; Se é verdade que você não pode mudar de vagão, é possível mudar a situação do seu vagão”. Diante disto, registrar nossas sensações, referente a um grupo que fez parte, até o momento, de metade da história do PAAS, torna-se importante. O grupo terminou aqui para nós, enquanto coordenado- ras, mas os ensinamentos dessa experiência seguem para a vida profis- sional que trilhamos daqui para frente. Acreditamos que experienciar é a capacidade que temos de nos modificar, de nos reinventar enquanto sujeitos de potência. Bondía (2002) afirmou que somente quando nos permitimos experienciar é que nos abrimos para a possibilidade de nos recriarmos e, este grupo nos permitiu isso. A vivência pode até se repetir, mas o que fica, de fato, foi a experiência, que foi única. Experiência, que para Bondía (2002, p. 24) seria: “... a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impos- sível nos tempos que correm: requer parar para pensar, pa- rar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o auto- matismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, ca- lar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.” De fato, se formos falar das nossas experiências na grupalidade, fomos sujeitos da experiência, que seria como um espaço onde têm lugar os acontecimentos, ou ainda, um território de passagem com uma superfície sensível, onde nos afetamos e somos afetados, inscrevendo efeitos e algumas marcas. Poderíamos pensar também como um ponto de chegada, um lugar que recebe o que chega, e que ao receber, acolhe,
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