Projeto de Atenção Ampliada à Saúde: 20 anos de desafios e possibilidades

PAAS: entre práticas renovadas 81 disso, um deslocamento de espaço de vivência das angús- tias, fundamentalmente experimentadas como individuais.” (BARROS, 1997, p. 188). O grupo foi, no decorrer dos encontros, proporcionando às mulheres, por meio da troca de conhecimentos e experiências, a possi- bilidade de enxergarem-se através de outros olhares, outras falas, outras histórias, buscando novos posicionamentos diante da vida. Podemos citar aqui a fala de duas integrantes, ao ingressar no grupo : “Me vejo como um pote feio e sujo por fora, mas bonito por dentro, só que ninguém se deu o trabalho de abrir...” e “...me sinto dentro de um buraco fundo” . A partir das problema- tizações dos discursos, passamos a escutar novas falas: “Me sinto melhor sem meu marido, melhor decisão que tomei na vida, da separação, agora tenho mais vontade de fazer as coisas, limpar o pátio e reformar a casa, e ainda, um lugar pra poder falar sobre isso, sem ser julgada.” ; “Me senti confortável em ir morar em outra cidade, cuidar mais de mim e deixar que meus irmãos cuidem da minha mãe, depois de tantos anos sob os meus cuidados. Como agora eles conseguem?”. Desta maneira, Barros (2009) afirma que temos que investir nos grupos, pois eles levados ao limite de sua forma, criam passagens para o plano coletivo e de produção de subjetividades. Neste sentido, tal in- vestimento se fazia importante tanto para o grupo de mulheres quanto para a supervisão coletiva 9 que tínhamos do grupo. CARTOGRAFANDO ENCONTROS E EXPERIÊNCIAS Desde o início, este foi um grupo bastante desafiador, mas também, muito motivador. Como coordenadoras, aprendemos mais que histórias, aprendemos a potência de criação do grupo que está- vamos inseridas. Nos sentimos como parte daquele grupo, e também nos emocionamos com as histórias narradas, nos preocupamos sobre quais sentidos estavam se produzindo em cada encontro. E sempre nos perguntávamos: o que existia entre nós coordenadoras e as pacientes? Hoje, nos fica muito claro... Existia uma experiência de grupalidade. 9 A supervisão de nossas práticas, também de forma grupal, era um espaço muito potente, onde ocorreram trocas de experiências com os demais grupos do Serviço, bem como a aprendizagem através dos relatos das práticas desenvolvidas e a ar- ticulação com aspectos teóricos, através de realização de seminários, e relatos das vivências das práticas grupais.

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