Projeto de Atenção Ampliada à Saúde: 20 anos de desafios e possibilidades

80 PAAS: entre práticas renovadas cartografia 8 foi a metodologia mais pertinente a ser adotada para cons- truir esta experiência. A POTÊNCIA DA/NA GRUPALIDADE Percebíamos o quanto se fazia necessário ao grupo de mulheres desenvolver a capacidade de ser continente, de acolher sem julgar, de colocar-se no lugar do outro e permitir que este pudesse expressar o seu sofrimento. O grupo é o continente dentro do qual vai ser ativada entre as pessoas uma circulação fantasmática e identificadora (ROSA, 2012), ou seja, na medida em que os indivíduos começam a partici- par do grupo e se conhecer, vão estabelecendo afinidades com esta ou aquela característica de um ou outro, desta forma, identificando-se e diferenciando-se. Diante disso, foi importante, neste processo, a estimulação de uma construção de relações entre as mulheres do grupo, de forma que se sentissem acolhidas e com confiança para falarem de suas dificul- dades, e assim, pudesse acontecer uma desnaturalização de suas con- dições de vida, já naturalizadas por instituições como a família, o tra- balho, o casamento. (HUR, 2012). O grupo acolheu histórias de vidas, marcadas pelo sofrimento, decepções e violência. O espaço construído foi possibilitando problematizar aspectos trazidos nos seus relatos, tais como idealizações sobre casamento e família, e o “papel” da mulher perante a sociedade. Era falado, em muitos momentos, do quanto to- mavam para si responsabilidades do cuidado de familiares, mesmo que, em um primeiro momento, não quisessem fazer isso, e o quanto era difícil olharem para si mesmas, fazer o que realmente tinham vontade, afirmar os seus desejos. “O experimentar ouvir o outro irradia uma experimentação de ouvir outros – outros modos de existencialização, outros contextos de produção de subjetividades, outras línguas para outros afetos, outros modos de experimentar. Impõe, além 8 A cartografia seria o acompanhamento de um processo, e não a representação de um objeto. A cartografia relacionada ao método inventa seus próprios movi- mentos e desvios. É uma proposta que pede passagem, que fala, que incorpora sentimentos e emociona. É um mapa do presente que demarca um conjunto de fragmentos, em infinito movimento de produção. (DELLEUZE; GUATTARI, 1995).

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