Projeto de Atenção Ampliada à Saúde: 20 anos de desafios e possibilidades
PAAS: entre práticas renovadas 79 enxerga, palavras que têm forma... enfim, propiciar a expressividade do não pensado, ainda de institucionalizado, não capturado e sua po- tencialização. ” (AMORIM, 2004, p. 2). Dessa forma, o grupo era constituído de mulheres “poliquei- xosas”, dependentes daquele espaço e, muitas vezes, sem esperança de uma possível alta. As participantes passaram a enxergar-se mais, a partir do momento, em que nós, coordenadoras, passamos a afirmar e acre- ditar que um outro grupo era possível. Este fato poderia ser represen- tado através das falas de duas participantes: “Eu ainda estou aprendendo a dizer não para coisas que eu não quero fazer, quero ter mais tempo para fazer as minhas coisas. Agora já estou conseguindo me ver aproveitando a vida, sem precisar vir aqui.”, “Não tenho sentido tantas dores pelo corpo, desde que tive um lugar pra poder desabafar, agradeço por isso.”. Talvez o grupo, fosse isso mesmo, uma forma de demonstração de gratidão, de potência, de afectos 7 que circulavam naqueles encontros, entre nós. Percebíamos, através do discurso das integrantes, que era um grupo voltado às falas do dia a dia e de relatos cotidianos, sem, muitas vezes, ser um grupo psicoterapêutico, onde as mulheres pudessem, de fato, escutar as suas histórias e a partir disso, criar, inventar e ressigni- ficar os conteúdos trazidos, deslocando-se em suas posições. Diante disso, pensamos que seria necessário, construir junto ao grupo for- mas de vida diferentes, através das suas próprias falas e experiências. Um grupo que fosse muito mais do que um lugar de expressão, com- partilhamento de sentimentos, mas também, de encontros que geras- sem problematizações capazes de ativar suas potências criadoras. O grupo foi construindo-se como um espaço de trocas de ex- periências e de vivências, que foi possibilitando às mulheres (re)pensa- rem a si mesmas e a suas relações, e possibilitando (re)pensar-nos en- quanto coordenadoras de um grupo ao fazer parte dele. Na grupalida- de estabelecem-se conexões entre pessoas diferentes, bem como entre modos de existencialização diferentes, portanto, estar diante de outros pode disparar movimentos inesperados porque é o desconhecido que passa a percorrer as superfícies dos encontros, enquanto experiência e enquanto modo de experimentar. (BARROS, 1997). Desta forma, a 7 Conforme Espinosa, citado em Deleuze (2002), afecto é entendido enquanto afecções do corpo em que sua potência de agir pode ser aumentada ou diminuída. Afectos envolvem tanto uma afecção do corpo, quanto a ideia dessa afecção.
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