Projeto de Atenção Ampliada à Saúde: 20 anos de desafios e possibilidades

78 PAAS: entre práticas renovadas “confessamos” que, em alguns momentos, também vinha de nós essa forma de olhar para o grupo. Assim, nos víamos desafiadas, enquanto coordenadoras, a sustentar a prática grupal. Barros (2007), afirma que o modo indivíduo se faz muito pre- sente na atualidade e se constitui como o modo dominante, mas que este não é o único modo de subjetivação, sendo importante insistir nos grupos como espaços coletivos de produção de subjetividade, através da problematização dos discursos e da criação de novas formas de ser e existir, a partir da experimentação. E, assim, insistimos num grupo que acreditávamos que fosse propiciar àquelas mulheres outros olha- res e outras vivências. Era importante refletir, conversar, trocar, mas se fazia fundamental poder escutar, e oportunizar que escutassem suas próprias falas. Propusemo-nos uma reflexão a respeito do efeito da des- valorização dos grupos, já que nas últimas décadas, deparamo-nos com a despotencialização do grupo como espaço analítico legítimo (CORBISIER, 2011), em prol da análise individual. Refletimos ain- da, sobre os questionamentos em relação aos processos grupais e a concepção utilizada pela maioria dos analistas de grupo – o grupo concebido como um todo – transcendente, tomado como uma enti- dade única, como unidade. Assim, queríamos experimentar o grupo a partir de outros entendimentos, visualizávamos enquanto coorde- nação outras possibilidades, e foi então que apostamos na constru- ção de um grupo dispositivo 6 . Tratava-se de inventar corpos inéditos, munidos de uma sensibilidade que permitisse que se sentissem a si mesmas e às outras integrantes de uma maneira insólita. Assim surgi- ram novas formas de ocupar o espaço de encontro, novos objetivos de vida, novas formas de expressarem-se, novas parcerias. É como se pudéssemos dizer... “Boca que olha, olho que come, dedo que 6 Barros (1994) refere-se ao grupo dispositivo como algo que faz funcionar, que aciona um processo de decomposição e produz novos acontecimentos, deslo- cando a noção de grupo para a de subjetividade; um grupo como algo capaz de produzir novos acontecimentos e modos de subjetivação, descristalizando lugares e papéis que o sujeito-indivíduo constrói e reconstrói na sua história. Um gru- po deixa de ser o modo como os indivíduos se organizam para ser dispositivo, produzindo focos importantes de criação. A ideia de subjetividade aponta para uma ruptura com a noção unificadora de indivíduo, visto que ela é um conjun- to de componentes que são tanto da ordem extra-individual quanto da ordem intrapessoal.

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